A potencialidade reacionária do conceito de revolução colorida

Por Vinicius Luiz Correa*

No texto abaixo faço uma crítica ao conceito de revolução colorida como descrito por Andrew Korybko no livro “Guerras Híbridas”, além disso, discuto a pertinência de analisar fenômenos geopolíticos a partir da perspectiva da luta de classes antes do que da disputa interestatal, pois caso contrário corremos o risco de assumir posturas antipopulares ou francamente reacionárias.

Introdução

Nas últimas semanas, uma polêmica se instalou entre as forças progressistas brasileiras sobre o caráter das mobilizações no Cazaquistão. Trata-se de uma revolução colorida? É uma mobilização popular legítima dos trabalhadores? Mobilização popular cooptada por forças ligadas ao imperialismo estadunidense? Conflito inter-imperialista onde todas partes procuram garantir seus interesses tendo pouca ou nenhuma preocupação com a vida dos trabalhadores, mais do que isso, onde os trabalhadores na realidade pouco influenciaram no rumo da luta? Pouco importa o conteúdo da resposta deste caso concreto no âmbito desse texto, o que importa é que em todos os casos o conceito de revolução colorida estava no centro dos debates, tal sorte que grande parte das discussões estava orientada sob a primeira pergunta: Trata-se de uma revolução colorida?

Tendo esse debate em mente, devemos ter dois objetivos em mente, primeiro, que raios configura uma revolução colorida? Segundo, devemos orientar nossas análises geopolíticas e internacionalistas por este conceito, o que significa o mesmo que dizer: esta pergunta que guiou os debates tem alguma pertinência?

Assim como todos caminhos levam a Roma, todos os debates geopolíticos brasileiros levam ao livro de Andrew Korybko “Guerras Híbridas” publicado em 2018 no Brasil pela Editora Expressão Popular, por essa razão para realizar os objetivos delineados se torna pertinente que este livro esteja colocado a prova, especificamente o conceito de revolução colorida para nossas análises, tendo em mente a predominância do conceito de “guerra híbrida” nos últimos anos. Devemos nos perguntar o que tal conceito nos diz sobre o movimento da luta de classes, as mobilizações do povo em luta e as tensões geopolíticas intra-estatais e a estratégia do imperialismo estadunidense para o “mundo multipolar”.

Em outras palavras, temos a tarefa de avaliar se o conceito de revolução colorida possui fôlego para, além de ser a descrição dos objetivos estratégicos estadunidenses, descrever como movimentos de massa operam no capitalismo contemporâneo, portanto, como a ideia estrategicamente formulada pelo imperialismo ianque se manifesta no ser sociológico da classe trabalhadora e na luta de classes. É com essa intenção que este texto foi escrito.

Para tornar o exercício mais interessante irei afirmar dois pressupostos. O primeiro é um compromisso ético-político com a classe trabalhadora enquanto um militante comunista versado na tradição do marxismo-leninismo, tal sorte que pouco me importa o rumo das tensões inter-imperialistas, muito menos o destino de uma tal Rússia conservadora e capitalista, mesmo que em termos geopolíticos ela seja uma importante peça para os países periferizados do capitalismo mundial afirmarem sua soberania. Dito de outro modo, minha preocupação estratégica é única e exclusivamente com a revolução socialista, e a curto prazo, com a melhora objetiva das condições da classe trabalhadora, assim como a melhora das condições subjetivas, de organização e luta nos diferentes níveis da luta de classes.

Segundo pressuposto, este feito simplesmente por um exercício intelectual e de comprovação teórica, assumirei como verdade todas as fontes e argumentos duvidosos (e conspiracionistas) do autor, desconsiderarei os elementos de propaganda pró-russa, aceitarei como verdadeira a teoria da guerra híbrida entendida como conjunção das táticas de revolução colorida + guerra não convencional como forma de troca de regime pautada pela estratégia dos balcãs eurasiáticos em um plano de supremacia mundial estadunidense. Assim poderei examinar a partir de sua lógica imanente como o conceito de revolução colorida se liga à luta de classes, em outras palavras, podemos delinear nossa pergunta ao conceito de revolução colorida: Como um conceito essencialmente militar manifesta-se no ser sociológico da classe?

O texto se estrutura em três partes, na primeira, introduzo o conceito de revolução colorida como abordado por Andrew Korybko partindo de seu texto. Na segunda parte analiso os elementos sociológicos do conceito, avaliando sua pertinência para pensar movimentos de massa; por último, concluo pensando como este conceito pode dar vazão a discursos conservadores, estadocêntricos e anti-populares utilizando-se de um retórica anti-imperialista, assim como aponto a direção para um debate mais qualitativo acerca dos movimentos espontâneos de massa na perspectiva de classe.

Exposição do conceito de revolução colorida

Peço desde já desculpas ao leitor porque para realizar uma crítica imanente ao conceito de revolução colorida tenho que expor sua extensa lista de fundamentos teóricos, entretanto, tentarei ser menos enfadonho do que o autor do livro (um fetichista da repetição) nessa fase meramente expositiva. Para efeitos deste texto não importa a estratégia ou então a teoria completa da guerra híbrida, dado que me interessa aqui apenas a primeira parte do binômio revoluções coloridas-guerra não convencional.

As revoluções coloridas não são um fenômeno sociológico! Eis a primeira coisa que se deve saber sobre este conceito. A pergunta que surge então é: qual tipo de conceito é? A isso respondemos: um conceito militar. Vamos a sua exposição:

O conceito de revolução colorida é exposto no capítulo 2 do livro nomeado “Aplicações das revoluções coloridas”, e como se espera de um conceito nem um pouco sociológico sua forma de exposição se dá nos fundamentos estratégicos, de um lado, e de sua aplicação prática, de outro. Korybko tem um hábito um pouco estranho de citar livros e artigos militares como fonte para afirmar que o exército estadunidense está aplicando tal estratégia ou tática, mas como estou acreditando no que ele diz neste texto vamos expor as tais fontes da revolução colorida:

Propaganda é um livro de Edward Bernays de 1929 que utiliza de fundamentos da publicidade e comunicação de massa aplicados nas revoluções coloridas. Segundo o autor, Pensa-se a partir da psicologia de massas (não se sabe qual) que se pode controlar as massas a partir do mecanismo de funcionamento que as leva a ação: “Essa é justamente a base das revoluções coloridas. A psicologia de um grupo geral e específico (no contexto da civilização/cultura alvo) é estudada para tirar melhor proveito dos métodos para difundir mensagens contra o governo.” (p. 48).

O objetivo aqui seria a “fabricação de consenso”, o que se faz baseado em uma pesquisa minuciosa dos alvos — os Estados-alvo — que permitirá uma proximidade com o público local, a partir desse estudo social e psicológico inicia-se uma campanha de disseminação contra o governo local que os Estados Unidos desejam derrubar (visto que os EUA são o único país do mundo que se utilizam de guerra híbrida segundo Korybko), assim prepara-se ideologicamente uma parte da população que irá atuar a favor dos interesses estadunidenses contra o governo: “O principal objetivo da campanha de informação é que o alvo internalize as ideias que lhe são apresentadas, dando a impressão de que os próprios manifestantes chegaram, por conta própria, às conclusões induzidas de fora” (Korybko, 2018, p. 50).

Realizada a internalização objetivada, os indivíduos passam a transmitem essa mensagem externa para seus amigos e familiares próximos via comunicação pessoal e virtual como um vírus de computador! E então a sociedade se contamina com ideias estrangeiras e anti-nacionais (leia-se anti-governamental).

Chegamos a um segundo conceito importante: a guerra neocortical reversa. Partindo de um tal Richard Szafranski pensa-se na “guerra neocortical” se referindo a promoção de táticas para controlar e moldar a liderança dos inimigos sem destruí-los, tal sorte que o objetivo seria munir o adversário com ideias, avaliações e cálculos que correspondem aos interesses daquele que constituem essa campanha de informação: “A ideia de Szafranski consiste em usar técnicas de disseminação da informação para moldar indiretamente o ‘cérebro coletivo’ da liderança do inimigo (isto é, o alvo) a fim de influenciá-lo a não lutar” (ibid, p. 51).

Então, a guerra neocortical reversa fundamenta-se em realizar o mesmo processo, técnicas de disseminação de informação para moldar o inimigo, mas inverte-se o alvo: não foca líderes mas a população. A forma de fazê-la é “estudar os valores, a cultura e a visão de mundo dos alvos e, então, abordá-los com programação neurolinguística” (ibid, p. 51).

Uma das maneiras que isso pode ser feito é pela da guerra centrada em rede social, outro conceito chave. A teoria da guerra centrada em rede parte de aspectos advindos do hardware, mas Korybko transmite-os para as redes sociais. O poder (ideológico) é pensado como uma rede propagada em progressão geométrica, dada a capacidade de disseminar-se em pontos heterogêneos, constituídos a partir de pontos criados pela agência externa (governo dos Estados Unidos), tais pontos de contato por sua vez criam novos pontos.

Estruturalmente essa guerra em rede é operada em pelo menos três níveis: grades de sensor e grades de transação (ou engajamento) hospedadas por uma espinha dorsal da informação de alta qualidade” (Cebrowksi e Garstka, apud Korybko, 2018 p. 52). As grades de sensor seriam o ponto de contato inicial com as munição das informações contra o governo; as grades de transação e engajamento são os próprios indivíduos agindo nas suas redes sociais reproduzindo a informação e pessoalmente quando inicia a revolução colorida; enquanto que a informação de alta qualidade é a campanha de informação externa construída pelo estudo prévio da sociedade-alvo.

Dessa guerra centrada em rede social chegamos à guerra em rede. Arquilla e Ronfeldt da RAND Corporation previram a “guerra em rede” que é descrita pelo autor da seguinte forma: “Eles propuseram haver um novo tipo de conflito social no horizonte, no qual redes ‘sem líderes’ compostas principalmente por atores desvinculados do Estado se aproveitariam da revolução da informação (isto é, da Internet) para travar uma luta amorfa de baixa intensidade contra o Establishment.” (ibid, p. 53).

Essas guerras se dariam a partir de organizações dispersas, pequenos grupos e indivíduos via internet geralmente sem comando central preciso (porque afastados da agência externa irrastreável). Então Korybko abstrai disso, que parece ser um modelo para descrever movimentos sociais revolucionários para uma forma de pensar administração das percepções pela teoria do caos, segundo a qual o governo dos EUA tem a capacidade de controlar o caos a partir de estruturas comunicação, tratarei disso quando chegar na parte sociológica da teoria da revolução colorida.

Parte-se aqui de uma hierarquia em fases da formação dessa rede. A primeira fase seria a de uma rede em cadeia centralizada, seguida pela rede em estrela, que é compartimentada e constitui uma célula dentro de uma rede maior e, por fim, a rede multicanal que satisfaz o modelo de descentralização tática, pois os membros sabem o que devem fazer de forma independente, porém coordenada: “Isso faz das unidades individuais ‘uma só mente’ e impõe um desafio extremamente difícil de ser contraposto por causa de todo o ‘turvamento’ entre ações ofensivas e defensivas.” (p. 54).

A guerra híbrida incorpora a guerra em rede na medida que propõe uma combinação dos três tipos de formação em rede. O modelo em cadeia é a primeira parte da revolução colorida: “Ela começa no exterior com a decisão de derrubar um governo não submisso estrategicamente localizado.” (p. 55).

Depois passa à hierarquia administrativa até chegar ao nó do planejamento. Aqui a estrela começa a tomar forma. É nessa fase que a CIA e o Pentágono começam a fazer um brainstorming de métodos para colocar as ordens em prática, se ramificam para conectar os nós ativos. Também aparecem nessa parte organizações como think tanks, essa fase de planejamento serve para coletar os materiais para a implementação da revolução colorida de fato, isso se faz examinando as “redes multicanal existentes que definem o ambiente social do alvo” (ibid, p. 55).

Após ter uma boa ideia do ambiente social: “os organizadores externos se sentem confortáveis o bastante com as informações que apreenderam, eles tentam penetrar na sociedade-alvo através de meios ou físicos (em campo) ou virtuais (via Internet).” (ibid, p. 55). Formam-se participantes e organizadores convictos da desestabilização futura:

O mais provável é que uma abordagem híbrida com ambos os aspectos físico e virtual seja adotada. Esses indivíduos (agentes de inteligência em campo e/ou simpatizantes/dissidentes entrincheirados) servem como os nós de ponto de contato (PDC) que são incumbidos de criar suas próprias redes em estrela e multicanal através de redes sociais online ou ONGs físicas. À medida que mais líderes organizacionais são recrutados, novos nós PDC’s comunicando-se (seja de maneira consciente ou não) com a agência de inteligência estrangeira possivelmente surgirão. O objetivo consiste em aumentar exponencialmente o número de nós, de acordo com a lei de Metcalfe, para maximizar a rede social e alimentar a energia e momentum sociais do movimento golpista. (ibid, p. 56).

Assim, como uma rede multicanal se torna cada vez mais difícil desencadear o início do movimento, tal sorte que os agentes não percebem que agem em favor dos EUA. Ademais, agem de forma coletiva:

Se tudo for suficientemente bem organizado e houver um intercâmbio fluido de entrada e saída (comandos e retroalimentação) trafegando através da rede, então os nós ativos dentro do Estado-alvo tornam-se todos “uma só mente”. A aplicação tática disso no contexto das revoluções coloridas é algo chamado de “enxame”, e ambos os autores [Arquilla e Ronfeldt] escreveram um livro sobre esse tema em 2000. (ibid, p. 57).

Depois de afirmar que o Departamento de Estado dos Estados Unidos se utiliza do Facebook para realizar operações psicológicas e coleta de informações o autor chega em outro conceito chave, “a mente de colmeia” e os “enxames”, eis aqui onde a estratégia militar deve tomar forma sociológica, correto? Não.

Na opinião do autor, isso que foi delineado até é suficiente para comprovar a possibilidade real da criação de “mentes de colmeia”, que nada mais são do que: “massas insurgindo contra os centros simbólicos e administrativos de poder das autoridades como um enxame unificado (se descentralizado) a fim de provocar a troca de regime pela lei da aglomeração (isto é, caos organizado e dirigido).” (ibid, p. 60).

A finalidade dessas técnicas até aqui apresentadas é reunir muitas pessoas que compartilham convicções contrárias ao governo que os Estados Unidos procura depor. Então por meio da guerra neocortical reserva deve-se criar uma massa — uma mente de colmeia que age coletivamente a partir de uma estrutura descentralizada em rede — com o desejo real de depor o governo.

Finalmente aparece uma tentativa de mediar sociologicamente esse fenômeno da “mente de colmeia” a partir de Anna Piepmeyer que conceitua “consciência coletiva” como: “a condição do sujeito dentro da sociedade como um todo, e como qualquer dado indivíduo vem a se perceber como parte de dado grupo” (Piepmeyer apud Korybko, 2018, p. 61). Trata-se, portanto, de um conceito que trata da formação de um grupo social qualquer, uma identificação coletiva dentro de um todo social, parece à primeira vista um conceito sociológico que pode se aplicar à atribuições religiosas, políticas, sexuais, econômicas, etc, mas não necessariamente ligado à formação de um corpo coletivo voltado a um fim específico como operações de troca de regime ou revoluções coloridas. Então ela completa com o seguinte: “é o afeto/efeito em e dentro de qualquer dado público cujos pensamentos e ações são constantemente mediados por pressões externas” (apud, p. 61), o problema é que não há aqui uma conceituação de “pressões externas” por parte de Piepmeyer, isso não incomoda A. Korybko, que não titubeia: “a guerra híbrida tomando essas pressões externas no sentido específico de influência de organizações de inteligência estrangeiras dedicadas a promover agitação civil com vistas à troca de regime dentro de um Estado/sociedade-alvo.” (grifos meus, Korybko, p. 61).

Logo depois, um segundo conceito sociológico é introduzido, “inteligência de enxame”, que basicamente se refere a uma analogia com o comportamento de insetos que parecem amorfos, mas que na realidade possuem uma estruturação de seu comportamento que é coordenado para atacar de todos os lados possíveis e que “funcionarão melhor — quiçá só funcionarão — se forem desenvolvidos principalmente em torno da mobilização de unidades de manobra inúmeras, pequenas, dispersas e interconectadas (o que chamamos de “bandos” organizados em “aglomerados”).” (Arquilla e Ronfeldt apud Korybko, p. 62). Assim, podemos pensar como cada um dos insetos — digo, pessoas — agem como se parte de um todo autônomo, mas percebe a si como parte desse todo que é externamente controlado e indetectável porque a estrutura horizontal de rede separada em unidades inúmeras, dispersas, mas interconectadas não permite que o inseto — ou o governo local — perceba as ações do Departamento de Estado dos Estados Unidos.

Fim da parte sociológica, temos agora que ligar essa bela explicação do comportamento humano e da psicologia das massas de dar inveja a Le Bon ao fenômeno das revoluções coloridas, como Korybko faz isso? Citando repertórios de ação e usos cotidianos de redes sociais; o facebook reúne pessoas e permite que elas debatam ideias (assim como marca encontros, o que não é mencionado); Google Maps é utilizado para marcar locais e construir rotas de fuga (aparentemente a tecnologia mapa foi criada pelo Google!); Twitter é utilizado para difundir mensagens!; Youtube para publicar vídeos! As hashtags para afinar mecanismos de busca e organizar informações!

Depois de nos dar essa bela aula de como funcionam as redes sociais podemos chegar a parte onde analisamos o “Maquiavel da não violência”, Gene Sharp, autor de alguns livros sobre táticas não-violentas com o objetivo de derrubar “ditaduras” — leia-se governos não alinhados com o imperialismo estadunidense e a União Europeia —, então Korybko basicamente cita o destaque midiático dado a Sharp e cita algumas das táticas não violentas frequentemente empregadas em revoluções coloridas dizendo: “A aplicação dos ensinamentos de Sharp pode ser vista em todas as revoluções coloridas até hoje, o que foi observado inclusive por Engdahl” (ibid, p. 68).

Conclui-se então a partir dessa exposição o seguinte:

  • As revoluções são campanhas de informação externa para o vasto público;
  • São informadas a partir de um minucioso estudo da sociedade local;
  • Buscam manchar a imagem do governo alvo;
  • Miram a psiquê do indivíduo para motivá-lo a lutar em uma guerra neocortical reversa;
  • Utiliza-se das novas tecnologias de informação com o objetivo de espalhar para um grande número de pessoas, e que estas empalhem-na como um “vírus”;
  • A partir dessas campanhas criam-se “mentes de colmeia” que agem de forma unitária;
  • Usam amplamente de métodos não-violentos de luta propagados por Gene Sharp, o que serve também para angariar apoio da mídia hegemônica internacional;

Crítica sociológica ao conceito de revolução colorida

Ufa, chegamos ao fim da exposição da teoria da revolução colorida. Agora chegamos à parte que realmente interessa, a crítica sociológica dessa teoria. Lembrando que esta teoria, para efeitos de análise, está correta em seus termos estratégicos e militares.

Apesar de sua correção, ela tem algumas lacunas fundamentais. A primeira e mais óbvia é que ela dedica quase nenhum esforço às dimensões sociais da revolução colorida, o que é deveras importante, porque ao contrário dos insetos que, de fato, possuem uma mente coletiva, os seres humanos precisam construir sua mente coletiva, e apesar de Andrew Korybko acreditar que é suficiente uma campanha de disseminação de informação para formar essa mente coletiva, a sociologia discorda.

Vamos voltar aos conceitos “sociológicos” da teoria, primeiro o de “consciência coletiva”, como já vimos, se trata da identificação de um indivíduo em um determinado grupo a partir de pressões externas, que não são explicitadas porque toda relação do indivíduo com a sociedade é, de certa forma, uma relação na qual a pressão externa é exercida. Porém, deixemos de lado o rigor conceitual: é óbvio que a pressão externa se trata de propaganda!

A partir dessa pressão externa que forma a “consciência coletiva” forma-se a tal da “inteligência de colmeia”, que nada mais é do que a ação coletiva de “enxame” contra o governo coordenada por agente externo. Entretanto, há aqui ainda um problema a ser solucionado, como se formam as mentes de colmeia na dimensão sociológica? Esta pergunta permanece em aberto, pois falta a mediação entre a dimensão estratégica e a manifestação sociológica do conceito. Mesmo que a descrição dos enxames esteja correta, ainda não há uma mediação concreta que faça a ligação entre a percepção da possibilidade da criação de uma “inteligência de enxame” e o enxame em si. O que quero dizer, é que Korybko, no alto de sua sabedoria, tem o mérito de no máximo provar que o governo dos Estados Unidos procura promover revoluções coloridas pautando-se por uma tosca teoria sociológica da “fabricação de consensos” que constitui enxames de pessoas agindo coletivamente em uma “inteligência de colmeia”, mas em momento nenhum ele consegue comprovar como a tal “mente de colmeia” se forma, o que é extremamente importante para pensar a aplicação real do conceito de revoluções coloridas, porque caso contrário o que nós temos é uma análise de uma estratégia estadunidense, mas que não nos diz nada sobre sua aplicação efetiva.

Esse fracasso de Korybko é incontornável, sua teoria nunca supera o limite da formulação estratégica para o plano do concreto, de sua aplicação, e portanto, mantém no âmbito da abstração, da intenção, de um plano.

Sociologicamente falando, a revolução colorida envolve mais do que apenas um plano, para nós cientistas sociais, o que interessa não é o manifesto de uma intenção, mas a produção efetiva de uma revolução colorida, o que está completamente ausente da obra. Vamos então, examinar os pontos fundamentais da teoria das revoluções coloridas procurando compreender como eles podem se efetivar.

Podemos esquematicamente reduzir a teoria das revoluções coloridas à seguinte afirmação: campanhas de informação promovidas por um governo externo (EUA) a partir de informações previamente coletadas que busca manchar a imagem do governo-alvo para criar as mentes de colmeia objetivando a troca de regime. A pergunta latente que permeia essa afirmação é: qualquer campanha de informação externa é capaz de criar as mentes de colmeia?

Me parece evidente que não, qualquer bom teórico da ideologia vai nos dizer que a ideologia na maioria das vezes — com a exceção do fascismo — não é uma mentira inteira ou descabida, mais do que isso, ela procura se aliar a elementos das contradições reais da sociedade que aparecem no imediato dos indivíduos, é justamente por isso que, primeiro, as campanhas de informação dependem de um largo estudo sociológico e psicológico das sociedades em questão, para que possam se ligar às contradições reais daquela sociedade que afetam a vida cotidiana dos indivíduos; segundo, revoluções realmente populares existem, porque as contradições da vida cotidiana aparecem no imediato dos indivíduos e podem ser mobilizadas sob a forma do discurso — e da ação — que, mais do que apenas apontar a realidade de um problema, — pois o indivíduo já possui consciência imediata de que há um problema, na maioria das vezes — faz irromper a possibilidade de uma vida qualitativamente superior àquela que ele vive mediante a ação coletiva (Iasi, 2012).

Em ambos estes casos, o fundamento da percepção da possibilidade da ação coletiva não está ancorada em uma mentira absoluta, mas em contradições reais daquela sociedade que aparecem para o sujeito como problemas não mais naturais ou eternos, e sim como problemas sociais realmente solucionáveis pela ação das pessoas. Portanto, um fundamento das revoluções coloridas só pode ser o sofrimento humano imediatamente percebido como solucionável. O objetivo da campanha de informação — seja ela imperialista ou revolucionária — nada mais é do que a desnaturalização do sofrimento humano, a formação de uma ligação ideal entre o sofrimento humano e uma causa material — e essa ligação pode estar fundada em relações sociais reais ou fabricadas, neste caso a desnaturalização serve à produção de uma segunda naturalização —, o governo. Caso esta ligação não seja formada a campanha de informação irá entrar por um ouvido e sair pelo outro.

O que nos leva a uma segunda determinação. Não basta que o problema social exista, ele tem que ser percebido como um problema social, mais do que isso, no caso específico das revoluções coloridas, um problema social pode ter seu significado invertido, eis a determinação da campanha de difamação como inversão do fundamento do sofrimento humano.

Um exemplo absolutamente hipotético que nunca vai se realizar para ilustrar essa segunda determinação: uma pequena ilha no Caribe possui um governo socialista constantemente atacado por uma superpotência global desejosa de poder, que, por não poder transformar esta pequena ilha em um cabaré tropical para suas elites gozarem férias, produz via embargo econômico fome, miséria, entraves ao desenvolvimento econômico, político e social, impõe limites à soberania nacional, entre outros graves problemas, processo que dura há seis décadas. Coisa de filme, vilões hollywoodianos que nunca existiriam na vida real.

A causa dessas contradições na ilha são percebidas pela população como uma atribuição dos nossos vilões, mesmo com décadas de campanhas de difamação, o que explicaria isso? Logicamente o aparato de informações do frágil governo socialista, diria nosso querido amigo Korybko (2018), afinal é este o remédio que ele propõe para as nações atacadas pela propaganda imperialista:

A maior defesa contra a guerra híbrida é o estabelecimento de salvaguardas civilizacionais. Isso significa que se os cidadãos se sentirem em larga escala parte de “algo maior” e virem em seu governo respeito a esse conceito supranacional mais elevado, eles serão menos propenso (sic!) a tomar parte em atividades subversivas contra ele. Na verdade, a forte promoção de ideais patriotas (no sentido nacional ou civilizacional) pelo Estado e por suas ONGs afiliadas pode levar à eventual criação de uma mente de colmeia em favor do governo que participaria de contraenxames contra quaisquer insurgentes anti-Establishment. É importante que essa ideologia, se assim podemos chamá-la, seja inclusiva e reúna as mais variadas demografias sociais, étnicas, religiosas e econômicas que residem no Estado, à mesma maneira que ideias subversivas de ‘democracia liberal’ são capazes de unir a miríade de grupos de um Estado-alvo (ainda que apenas temporariamente) no objetivo comum de derrubar seu governo ‘antidemocrático’ […] Como precaução extra, recomenda-se estabelecer redes de Internet nacionais. […] O objetivo final consiste em buscar a autarquia social e informacional, sendo a confiança na mídia ocidental para esses dois estrita e voluntariamente evitada pela maioria da população. (p. 101).

Então a resposta está clara, programas de assistência social — menos importante — e promoção de uma ideologia estatal e patriótica. Contra-propaganda e assistencialismo, eis a resposta para lutar contra as revoluções coloridas!

Não irei subestimar a importância de ambos, mas devo examinar essa solução ao problema e depois cotejar com a realidade. Korybko atribui uma importância quase sagrada à informação e às redes sociais, para ele, a formação de “enxames” é um correspondente direto à correta campanha de informações direcionada à população. Este é certamente um ponto de vista válido, a campanha de informação é certamente uma das formas mais relevantes de controle social — a verdadeira preocupação de Korybko —, não a toa que os movimentos populares, socialistas e comunistas têm dado tanta ênfase à agitação e propaganda e a proposta de reforma da mídia e das telecomunicações, não obstante, esta dimensão da luta de classes está longe de ser a única e a mais determinante.

Outro exemplo bastante simples, hoje, há grandes monopólios internacionais de mídia, assim como de internet e das redes sociais, cuja maioria está nas mãos do imperialismo estadunidense ou europeu. Isto é um fato. Em todo caso, levantes de cunho verdadeiramente popular ocorreram em toda a América Latina nas últimas décadas, os exemplos de Brasil com o novo sindicalismo, o inominável movimento de massas venezuelano (que recentemente descobrimos ser uma criação do exército), os casos da Bolívia e da Nicarágua vem à mente. Em todos estes casos o imperialismo estadunidense esteve atuando fortemente contra os movimentos populares, inclusive com o uso massivo da comunicação de massa — podemos aqui debater a importância das redes sociais, mas não muda em nada a questão de fundo — contra a classe trabalhadora posta em marcha. Como isso pôde ocorrer se haviam ou governos altamente reacionários apoiados pelo imperialismo — portanto sequer eram enxames vindo de fora, os enxames seriam supostamente criados por dentro — propagando ideologia anti-nacional nesses países?

A resposta é mais óbvia do que parece, a comunicação não é o supra sumo, o trunfo supremo, o gameshark da luta de classes. Ela é um aspecto central dela sem dúvida alguma, mas em todos esses casos citados as organizações da classe trabalhadora produziram um corpo massivo sem grande financiamento, sem domínio das tecnologias da informação, ou Big Data. Pasmem, a luta de classes nunca será travada sob igualdade de condições! Todas as revoluções passadas e futuras foram e serão jogadas no campo do adversário, com estádio lotado, juiz comprado e quando eles estiverem ganhando farão de tudo para furar a bola.

Ao não considerar essa possibilidade, Korybko na realidade age em favor do status quo — só que russo ao invés de estadunidense —, pois vamos observar como podemos interpretar a tal teoria da revolução colorida em termos efetivos a partir de outro exemplo hipotético. Uma medida impopular do governo é sancionada, vamos dizer hipoteticamente que a passagem de ônibus tenha subido 0,20 real, contra isso a população local passa a se organizar espontaneamente, realizar pequenos protestos sob a forma de atos de rua, panfletagens, publicações nas redes sociais e pautar a luta em tom crítico ao governo.

Vamos separar esse último parágrafo em alguns elementos: uma contradição local — o transporte público caro, precário e de baixa qualidade — atinge o imediato da população que passa a colocar-se em ação, utilizando meios de comunicação digitais descentralizados para divulgar a pauta, tal sorte que o movimento para a formar uma rede, uma determinada “consciência coletiva” em torno da necessidade da “livre passagem” que age coletivamente de forma desagregada, supostamente horizontal, mas que possui uma certa “inteligência de enxame” para determinar rotas de fuga, resistir à repressão do Estado e, por que não? Realizar ações diretas. Mais do que isso, o governo não consegue encontrar o ponto de início do movimento, onde começou e quais são as lideranças desse movimento.

Voilá, em dois parágrafos se descreve um movimento espontâneo da classe trabalhadora motivada por uma medida liberal e anti-popular como uma revolução colorida. Os elementos estão todos aí (salvo a ampla utilização de métodos de não-violência):

  • Campanhas de informação para o vasto público pelas redes sociais;
  • São informadas a partir de um minucioso estudo da sociedade local — o problema do transporte público;
  • Buscam manchar a imagem do governo alvo;
  • Miram a psiquê do indivíduo para motivá-lo a lutar contra essa injustiça percebida, o que configura uma guerra neocortical reversa;
  • As pessoas passam a espalhar as informações em seus círculos pessoais tais informações como um “vírus”;
  • A partir dessas campanhas criam-se “mentes de colmeia” que agem de forma conjunta para desestabilizar o governo;

Logo se percebe que o modelo da revolução colorida não é aplicável apenas a ataques imperialistas, na realidade ele é aplicável a qualquer movimento social que parte de contradições locais, organiza-se por redes sociais e, portanto, cresce em progressão lateral e geométrica, inclusive aqueles que partem da espontaneidade da classe. Nesse sentido, Korybko constitui uma teoria que não serve para pensar somente a revolução colorida, mas qualquer revolução!

Vamos dar nova materialidade à teoria, imagina-se que em um determinado país da Eurásia com grandes reservas de petróleo e gás exploda em movimentos populares após o aumento do custo do combustível em 100%. Contra isso, os trabalhadores de determinada localidade se põem em luta, poucos dias depois aparecem mobilizações para-militares em outra região do país, o território inteiro se vê envolto em tensões inter-estatais, um governo dito-socialista nos diz que é uma revolução colorida, um governo ex-socialista nos diz o mesmo, tropas destes enviadas para o local e a situação é solucionada.

Analistas brasileiros leem este acontecimento da seguinte forma:

Muito embora as manifestações contra o governo de Tokayev tenham começado de forma pacífica, motivadas essencialmente pelo aumento dos preços do gás liquefeito, largamente utilizado no Cazaquistão como combustível automotivo, elas rapidamente se degeneraram, especialmente em Almaty, com a ação de alguns grupos armados. […]

As reivindicações desses grupos prontamente extrapolaram reivindicações econômicas, regionais e por reformas políticas contra a influência onipresente de Nursultan Nazarbayev, que domina a política cazaque desde a época da União Soviética, e se estenderam para o campo geopolítico.

Dessa forma, as reivindicações passaram a incluir, além da renúncia incondicional do atual governo, a criação de um governo provisório que, entre outras coisas, rompa todos os laços com a Rússia e retire o Cazaquistão da União Econômica Eurasiática (UEE).
A atual rebelião no Cazaquistão tem, portanto, um evidente paralelo com a “revolução laranja” da Ucrânia, que colocou aquele país na órbita de Washington, e com as tentativas recentes de desestabilizar o regime de Belarus. (grifos meus, Zero, s/p 2022).

Entre esta citação estão dois grandes blocos de texto que tratam de elementos geopolíticos, estratégicos e de política externa focada na ação dos Estados. No primeiro parágrafo da citação está o único que se refere, de fato, às condições concretas da classe trabalhadora cazaque. A preocupação do texto, portanto, não é compreender qual o efeito das manifestações para a classe trabalhadora, mas compreender duas coisas: 1. se as mobilizações são fruto da intervenção estadunidense; 2. se a influência estadunidense aumentou ou diminuiu depois dessa luta. Para isso o conceito de revolução colorida está apto!

Não há, em nenhum momento, a preocupação de compreender o que a classe poderia ter feito para que as manifestações não “se degenerassem”. E este é um dos textos que inclui um dos mais altos graus de nuance na análise deste caso, na maioria das análises havia uma pura e simples condenação do movimento desde o início como uma revolução colorida.

Neste momento sou obrigado a passar a palavra para o camarada Jones Manoel:

[Na geopolítica] Existe a luta de classes que a gente não pode desconsiderar. Reparem bem: Na Venezuela os Estados Unidos tentam derrubar o governo bolivariano há muito tempo, [mas] nunca teve um modelo parecido com guerra híbrida […], porque se o governo da Venezuela cair hoje, se o PSUV for derrubado hoje com um modelo parecido com o que se entende por guerra híbrida [revolução colorida], tem um partido comunista forte na Venezuela que pode tomar a liderança do processo. Na Grécia quando teve a tentativa de esmagar o Syriza, também não teve os monopólios de mídia insuflando a população dizendo que o Tsipras traiu o programa histórico contra austeridade, não teve todo um processo de mobilização de agências de espionagem e serviço secreto criando protestos de massa […] para levar o povo para as ruas para derrubar o governo dele. Por que não teve isso? Porque na Grécia tem um partido comunista gigantesco que é o KKE que é muito forte, e se o imperialismo faz isso o KKE poderia assumir a liderança do processo. (Jones Manoel, Youtube, 2022).

A fala de Jones é perfeita para ilustrar a crítica ao conceito de revolução colorida, porque coloca a classe trabalhadora no centro da questão da disputa geopolítica, não se trata apenas de compreender os interesses do imperialismo, mas também de quais são as condições concretas da luta de classes naquele país, nesse sentido, a CIA supera Korybko quando faz suas campanhas de informação baseadas nas informações locais, e compreende que a tática da revolução colorida não é universal, mas depende concretamente da incapacidade da classe trabalhadora de agir com independência de classe e disputar internamente a direção da luta.

Aquilo que é mais fundamental, é compreender como um movimento de massas se origina a partir das contradições reais do capitalismo, que podem se manifestar no campo econômico, mas também pode se manifestar no campo político e ideológico. Vamos pegar um outro exemplo, luta pelo direito das mulheres, da população LGBTQIA+, negros ou indígenas, em todos esses casos trata-se de lutas por reconhecimento como nos diria um liberal Axel Honneth (2003), são lutas dentro dos limites do capitalismo para que ele cumpra suas promessas de universalidade dentro dos limites do Estado burguês.

Supomos que, um determinado país latino-americano com histórico de violência policial massiva contra a população negra, que este país depois de quatro anos de governo liberal-fascista tenha elegido um governo progressista social-liberal, mas que não revogou a política genocida de segurança pública chamada de “guerra às drogas”, cuja vitória segue sendo do Capital e das drogas, ambos invictos em batalha. É possível que a violência policial seja um gatilho para a formação de movimentos de massa, como nos ensina Badiou (2011), mas também o movimento Black Lives Matter.

Sob qualquer circunstância, um governo não alinhado com os Estados Unidos na América Latina irá sofrer interferência nesses protestos, seja financiando a mídia nacional francamente reacionária e fascistóide com discursos de criminalização da população negra, apoiando a guerra às drogas e a repressão do Estado, mas também com a possibilidade de tentar disputar o protesto por dentro com um discurso alinhado à democracia liberal, procurando diluir o conteúdo revolucionário do protesto, inclusive com apoio da mídia hegemônica internacional, dado que o imperialismo pode optar por atuar junto das forças fascistas e das forças liberal-democráticas ao mesmo tempo, tudo dentro dos conformes inclusive no sentido da teoria da guerra híbrida, pois os primeiros podem ser bastante úteis no caso de levar a cabo a guerra não convencional, enquanto que o segundo grupo precede-os com a revolução colorida.

Enquanto isso, neste contexto hipotético a tarefa dos comunistas e socialistas deve ser de dar a linha revolucionária a esta luta, inclusive demonstrando como a maior exploração de negros e negras e o genocídio dessas populações contribui para o capitalismo dependente, a manutenção do imperialismo e a reprodução de um Estado policial. E tudo isso é parte de uma mesma luta em disputa.

Note como neste caso a disputa é um elemento concreto do movimento de massa, há a possibilidade real de interferência externa e início de uma operação de troca de regime pela tática da guerra híbrida, mas também há a possibilidade concreta de que as forças à esquerda vençam esta disputa e deem uma guinada radical ao movimento de massas.

Eis o significado da teoria da luta de classes, há a possibilidade imanente da vitória e da derrota, algo que se dará no desenvolver da luta influenciado por uma série de condicionantes históricos. Vamos citar alguns dos condicionantes aos quais o conceito de revolução colorida passa longe:

  • Elementos de história nacional;
  • Direção política e disputa;
  • A composição da economia nacional, como se divide a produção social dessa sociedade, e como sua relação com o mercado exterior;
  • O tipo de subjetividade — tanto serializada quanto política — existente em determinada na nação;
  • A combinação dos diferentes aparelhos de Estado (ideológicos e repressivos), qual é proeminente? Como se relacionam com o bloco no poder?;
  • A própria existência do bloco no poder é ignorada. A formulação clássica de Poulantzas sobre o Estado-Nação como o resultado do relacionamento entre as classes e as frações de classe se torna supérfluo;
  • O histórico recente das lutas dos trabalhadores;
  • A relação das lideranças com as massas, a existência ou não de partidos de massa consolidados, assim como sua linha política;
  • A força da juventude, sua inserção produtiva, seus hábitos de consumo e sociabilidade;

Todas essas questões são essenciais para pensar a revolução ou contrarrevolução, mas estão ausentes da formulação de Korybko, que pensa poder contornar tudo isso com a afirmação de que o departamento de Estado, o serviço secreto e as think tanks estadunidenses realizam amplos estudos sociológicos e psicológicos no Estado-alvo! Ora, então o interessante para nós é compreender quais são as condições que impossibilitam a construção de uma revolução colorida, assim como, compreender quais foram os erros cometidos pelas operações de trocas de regime tocadas pelo imperialismo, afinal, podemos citar pelo menos na data do livro as experiências do Uzbequistão e da Bielorrúsia como tentativas frustradas, casos  explicitamente citadas pelo autor. E qual a razão para esse fracasso na análise do autor? O timing (!):

Se o timing da revolução colorida (e, por extensão, da guerra não convencional subsequente) não for acertado, todo o empreendimento pode se provar um fracasso, tal como as tentativas de operação para troca de regime na Bielorrússia e no Uzbequistão acabaram se mostrando. Isso mostra a necessidade de investigar mais a fundo o a [sic!] divisão em fases e o timing da guerra não convencional (Korybko, 2018, p. 86).

Em última instância, a classe trabalhadora para Korybko é uma permanente refém de duas instâncias superpoderosas, de um lado o imperialismo estadunidense que só não-sucede nas revoluções coloridas por um erro de cálculo, e podemos apostar que os investidores das multinacionais devem estar puxando os cabelos e bradando para o departamento de Estado sobre o Uzbequistão dizendo: “Como são burros! Não era óbvio que duas semanas antes tivemos a oportunidade perfeita?”; de outro lado, o próprio Estado-alvo que é o único capaz de impedir a existência da revolução colorida a partir da propaganda patriótica e de programas sociais com efeito publicitário, corroborando com a lógica que Mark Fisher (2021) ironiza como a obsessão do capitalismo neoliberal de publicizar todas as políticas públicas existentes, desenhando suas ações justamente para que elas sejam publicizáveis.

Mais do que isso, a escolha da classe é nenhuma, a agência da classe está submetida à luta entre deuses sobre-humanos e metafísicos chamados Estados-Nação, sua única esperança é, em última instância, adotar a ideologia correta — a interna —, o que significa que as forças do Estado-alvo conseguiram imperar e dominar as tecnologias de informação e campanhas de produção de consenso.

Chegamos finalmente à terceira e última parte do nosso texto, aquela na qual versamos sobre o efeito político da influência da revolução colorida no pensamento da esquerda brasileira, sobretudo nos seus posicionamentos referentes à política internacional e à geopolítica.

Depois de demonstrarmos como o conceito de revolução colorida é um tributário das teorias do fim da história, podemos então pensar sua validade para a análise de um conflito social qualquer.

Vamos voltar aos exemplos já utilizados, no caso da nossa ilha socialista, ali não há, de fato, mobilização de massas significativa, mas há a tentativa explícita de criá-la. Portanto, podemos constatar que mobilizações neste local fortemente apoiadas pela mídia internacional, sem respaldo de massas significativos e turbinadas por mensagens nas redes sociais controladas pelo imperialismo são, de fato, uma tentativa de revolução colorida, além disso, podemos identificar que a pauta central desses movimentos não se orientam por elementos concretos da realidade, como condições de trabalho, serviços públicos de qualidade, luta pela terra, moradia, preço dos alimentos nem nada do tipo. As reivindicações insufladas externamente bradam abstrações: liberdade de imprensa, democracia, direito de ir e vir e essas bobajadas liberais que só mobilizam a pequena-burguesia.

Segundo caso, reivindicações populares motivam mobilizações da classe trabalhadora iniciam-se com massiva base operária, tais mobilizações rapidamente subvertem-se em protestos violentos, o movimento é rotulado de revolução colorida e reprimido pelas forças anti-estadunidenses.

Neste caso, há ou não uma revolução colorida em curso? A pergunta aqui é mais nuançada, se no primeiro exemplo aquilo que determina a facilidade da resposta é a reivindicação absolutamente abstrata, a fraca base de massas — que inclusive atua na direção contrária dos protestos —, o forte apoio da mídia submissa aos interesses supremacistas do império e a clara operação de insuflar o movimento via redes sociais. No episódio cazaque, a situação é muito diversa. É suficiente apontar o interesse imperialista na região? É suficiente apontar a relação prévia de movimentos socialistas com organismos internacionais imperialistas? É suficiente apontar a violência perpetrada contra o Estado? Mais do que isso, é suficiente apontar a presença de uma guerra não convencional — que de fato parece ter ocorrido — para provar que uma revolução colorida esteve em curso, ou seja, que a guerra não convencional é sempre a continuação de uma revolução colorida mal-sucedida, portanto, que não pode ser mobilizada a partir de uma mobilização popular legítima?[1]

Me parece todas essas perguntas devem ser respondidas em negativo. Mas prosseguimos com a pergunta para os outros exemplos hipotéticos para justificar essa resposta. Nosso país latino-americano continua em polvorosa com a luta contra a violência estatal, de um lado, forças progressistas procuram radicalizar o discurso à esquerda imputando a carga ao capitalismo dependente, à estrutura social racista, a função classista do Estado e os limites da democracia burguesa na periferia do capitalismo, de outro lado, o imperialismo procura diluir o discurso com pautas puramente liberais, com palavras de ordem sobre a “democracia”, “o direito de ir e vir”, “direito ao processo legal”, “policial não é executor” e outros elementos que, de fato, importam e estão incorporadas no discurso da esquerda, mas que não são suficientes. Por fora do movimento, o imperialismo também promove as palavras de ordem “direitos humanos para humanos direitos” e “Vidas Policiais Importam”, promove vídeos da produtora supremacista (Universo) Paralelo Brasileiro nas redes sociais, e talvez, importa armas ou mercenários privados a partir dessa base social. Parte dos monopólios de mídia incorporam o primeiro grupo imperialista, parte no segundo.

Existe a possibilidade que este movimento seja cooptado pelo imperialismo? Mas é claro! Isso está dado? De forma alguma! Trata-se de uma pauta legítima da classe trabalhadora em disputa entre diversas forças com forças relativas diferentes, que pode ou não resultar na vitória da nossa classe. Pode ser que esta luta resulte na guinada à esquerda do social-liberalismo governamental, pode ser que crie condições para a consolidação de um partido revolucionário forte e hegemônico no país, pode ser que explodam mobilizações em outros países latino-americano de cunho popular com amplo apoio de massas. Também é possível que este levante dê as bases para o fortalecimento do neoliberalismo apoiado pelo Estado contra-insurgente com verniz democrático hegemônico na América Latina (Osorio, 2019), é possível que a guerra híbrida cumpra sua promessa e grupos paramilitares derrubem o governo-alvo, pode ser que o governo reprima violentamente as manifestações que continuam populares até o seu fim e dê ele mesmo uma guinada em direção aos interesses do imperialismo estadunidense fortalecendo os aparatos repressivos do Estado e alterando sua política externa.

O que concluímos disso? Ora, voltemos às nossas bases epistemológicas: o todo é essencialmente resultado (Hegel, 2014). As contradições do processo de um levante popular, seja ele uma crise de hegemonia (de autoridade) (Gramsci, 2007), seja ele uma crise revolucionária ou contra-revolucionária estão em aberto. Eles não podem ser determinados a partir de perguntas simples do tipo: Há interesse do imperialismo estadunidense? Como os think tanks atuam nas forças ditas populares? Qual resultado é o mais favorável para a promoção de um multipolar? Os manifestantes utilizam da força? Todas essas perguntas passam longe daquilo que é mais essencial, que é captar as contradições internas, as forças sociais em disputa, ligar as palavras de ordem aos seus interesses de classe, compreender a flutuação da hegemonia da luta, examinar a disputa entre as táticas adotadas e excluídas.

É claro que em tudo isso os Estados atuam, não como corpos metafísicos acima da disputa de classes, mas dentro delas e concretamente segundo um interesse de classe que não é o das classes exploradas e oprimidas, muito pelo contrário. Um Estado opressor nacional é mais desejável do que um Estado neocolonial? Sem dúvidas! Mas o nosso compromisso não é nunca com os interesses do primeiro porque repudiamos mais fortemente o segundo.

Cabe ainda mais duas observações sobre isso, uma de Lênin brilhantemente evocada por Gabriel Landi (2022) quando se posicionou com a classe trabalhadora cazaque. O revolucionário bolchevique nos diz:

Imaginar que uma revolução social é concebível sem as revoltas das pequenas nações nas colônias e na Europa, sem as explosões revolucionárias de um setor da pequena-burguesia com todos seus preconceitos, sem um movimento do proletariado politicamente não-consciente e massas semiproletárias contra a opressão de seus latifundiários, da Igreja, e da Monarquia, contra a opressão nacional, etc. – imaginar isso é condenar a revolução social. Então, um exército se enfileira em um local e diz ‘Nós apoiamos o socialismo’, e outro, em outro local qualquer, diz ‘Apoiamos o Imperialismo’, e isso será uma revolução social! […] A vanguarda consciente da revolução, o destacamento avançado do proletariado, expressando essa verdade objetiva de uma luta de massas variada e discordante, heterogênea e exteriormente fragmentada, será capaz de unir e dirigi-la, tomar o poder, expropriar os bancos, e os trustes que todos odeiam (ainda que por diferentes motivos!), e introduzir outras medidas ditatoriais que em sua totalidade equivalerão à derrubada da burguesia e a vitória do socialismo, que, no entanto, de nenhuma maneira, imediatamente se “expurgará” da escória pequeno-burguesa.” (Lênin apud Landi, 2022, s/p).

Podemos constatar que Lênin aqui nos diz que pouco importa a pureza do movimento de massas, assim como a presença dos elementos externos e imperialistas, pois a disputa é imanente à luta de classes, onde o proletariado se levantar aparecerá junto dele a sombra do Capital para cooptá-lo, matá-lo e devolvê-lo aos braços do trabalho alienado de onde, de sua perspectiva, nunca deveria ter saído.

A segunda observação é menos revolucionária e mais marxista ocidental — para desespero de uns e outros —, nos dizem E.P Thompson (1971; 1981) e Rancière (1996) (Marx, Gramsci, Lênin e Rosa, etc. estavam conscientes disso) algo que deve ser levado em consideração por todos os revolucionários: a classe aprende. E não só aprende, como aprende lutando, pela experiência do pôr-se sobre seus próprios pés e levantar contra a opressão e a exploração. O resultado disso é a formação daquilo que se consagrou como classe para si, consciência de classe ou auto-fazer-se da classe. Em todos os casos, a consequência é a mesma, e como diria um professor: “A luta de classes é didática” (Iasi, 2020), e aquilo que é absolutamente desconsiderado por Korybko é que a constante luta da classe trabalhadora pela sua emancipação cria além de uma “inteligência de enxame” favorável ao governo da ilha do nosso primeiro exemplo, mas concretamente cria uma nova forma de sociabilidade, um novo ser coletivo, uma experiência real da vida humana qualitativamente diferente, que não se ancora numa mera ideologia, mas na realidade da revolução que a classe faz pelas suas próprias mãos. Mas para além disso, a classe na nossa pequena ilha têm lutado contra o imperialismo há décadas, não é a propaganda, mas a luta que forma na consciência da classe o discurso do imperialismo como o discurso do inimigo

Luta! Assim, desnuda-se o segredo da ilha. Não o assistencialismo, não a propaganda. Luta!

Conclusão

Levando em consideração todos esses elementos, por que utilizar o conceito de revolução colorida para fazer análise de política externa? Me parece que a resposta é está no próprio Andrew Korybko: sua preocupação é com o controle social das massas e a manutenção de uma política aliada com a burguesia nacional com relativa possibilidade de negociação no âmbito externo em um mundo multipolar. O conceito de revolução colorida é pertinente para um estrato da esquerda que está contente com a manutenção do capitalismo, vista sua utilidade para deslegitimar de um lado, movimentos de massas do imperialismo, e de outro, movimentos verdadeiramente revolucionários que ameaçam as bases do Estado nacional burguês.

Para além disso, podemos dizer tranquilamente que o conceito de revolução colorida é útil em duas dimensões, primeiro, para revelar uma estratégia do imperialismo, voltada em torno da troca de regime de acordo com sua intenção de impor-se enquanto superpotência global e hegemônica. Segundo, para caracterizar a posteriori um movimento de massas que atenda os interesses do imperialismo, isso se justifica porque grande parte dos movimentos populares podem, de fato, se orientar por demandas legítimas das contradições internas daquele determinado país, portanto, não se pode cair no preciosismo de que toda demanda popular é em absoluto um levante da nossa classe. Se admitimos que o imperialismo age em todo o mundo ele pode liderar movimentos de massa em todo o mundo, mas a contrapartida dessa afirmação é igualmente verdadeira, pois em todo lugar do mundo um movimento de massas legítimo pode eclodir. Resulta disso que a única forma de utilizar o conceito de revolução colorida de forma realmente científica é pela constatação a posteriori, porque uma revolução colorida não é determinada, sociologicamente falando, pela existência de interesses do imperialismo na região, pelo início ter sido deflagrado pelas forças imperialistas ou se a influência estadunidense aumentou ou diminuiu nesses conflitos.

Concluindo, podemos dizer que a pergunta “Trata-se de uma revolução colorida?” é equivocada em termos de análise internacional, porque nos guia a analisar a luta de classes sob uma perspectiva descolada das contradições fundamentais da sociedade, procurando no conflito interestatal aquilo que determina nossas posições. Certamente esta é a posição mais cômoda em termos de análise, pode-se determinar interesses imperialistas e ligação do imperialismo com o conflito rapidamente. Mas mais do que isso, permite a perpetuação de um modo de pensar afastado das massas que atribui um perigo imanente à sua mobilização. Por uma última vez dou a palavra a Jones Manoel:

Se um governo que eventualmente é um governo que é adversário dos Estados Unidos, que tem uma boa relação com Cuba, mas se esse governo começar a cortar salários, começar a privatizar a saúde, começar acabar com política de moradia, sim é possível que a classe trabalhadora se revolte. E sim o imperialismo estadunidense vai adorar isso. Mas qual é a nossa resposta? É só brandar contra a guerra híbrida e dizer assim: “classe trabalhadora se foda aí, se exploda, baixe a cabeça para sua burguesia” porque esse governinho tem oposição ao imperialismo? (2022, Youtube)

A pergunta é retórica, mas é uma posição real quando se toma o conceito de revolução colorida como o mais fundamental conceito da análise política, tudo se resume à disputa entre Estados Unidos e Rússia (em menor medida China e Irã). No âmbito nacional isso serve como uma luva aos interesses social-liberais que, por um lado, procuram romper com a lógica imperialista unipolar no plano das relações internacionais, mas que por um outro lado procura constantemente diluir as lutas da classe trabalhadora ao limite restrito da Constituição Federal, das eleições burguesas e da perpetuação do mito personalista e suprapartidário que lidera a estratégia democrático-popular. Portanto, serve perfeitamente ao interesse de controle social de uma esquerda que tem como objetivo estratégico a manutenção da ordem burguesa via conciliação pelo alto, pois legitima teoricamente o divórcio com as massas.

Em última análise, podemos dizer que a pergunta que devemos nos fazer ao analisar determinada luta de massas é outra: Como a classe trabalhadora se insere neste conflito, quais vantagens objetivas e subjetivas podem ser levadas desta luta? Dito de outro modo, é nossa tarefa levar o pensamento ao caminho da análise concreta da situação concreta, sem preconceitos e atalhos analíticos que desviam a nossa atenção daquilo que para nós enquanto marxistas é mais fundamental: a revolução socialista, e a curto prazo, com a melhora objetiva das condições da classe trabalhadora, assim como a melhora das condições subjetivas, de organização e luta nos diferentes níveis da luta de classes. E reiteramos, por fim, que o trabalho do analista se inicia pela pergunta certa, e para isso esquemas prontos e simplistas nunca servem.

______

[1]Esta última argumentação está bastante explícita em Benjamin Norton. Nota-se o ponto de vista da disputa no seio do Estado até mesmo pelo título do vídeo “Revolução Colorida fracassada no tem como alvo aliado da Rússia no coração da nova rota da seda da China”. Norton, N. Failed color revolution targets Russia ally in the heart of China’s New Silk Road. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=rDVd0SZUigA. Acesso em 28 de jan. 2022.

Referências

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Zero, M. A disputa pelo Cazaquistão é tão importante quanto a disputa pelo Brasil. Vio Mundo. 2022. Disponível em: https://www.viomundo.com.br/politica/marcelo-zero-a-disputa-pelo-cazaquistao-e-tao-importante-quanto-a-disputa-pelo-brasil.html. Acesso em 1 fev. 2022.

 

* Vinícius Luiz Corrêa é professor, graduando em ciências sociais na UFPR, militante da União da Juventude Comunista-PR. E-mail para contato: correalvinicius@gmail.com

 

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