Amor e ódio: Uma unidade de diversos no espirito revolucionário

Por Caique de Oliveira Sobreira Cruz[1]

Nesta sociedade fraturada em duas grandes classes, capital e trabalho, onde os capitalistas exploram e oprimem o povo, não podemos devolver o ódio da classe burguesa contra os despossuídos com a resignação, ou seremos atropelados, esmagados. O ódio aos exploradores é um meio de defesa contra as injustiças desta sociabilidade desigual, engendrada pelo sistema capitalista. São necessários dois grandes sentimentos para que se possa superar este mundo velho, o amor e o ódio, como já dizia o nosso estimado Bertolt Brecht: “A grande arte exige amor e ódio”.


Diante da dramaticidade conjuntural do capitalismo brasileiro com a instauração de uma “guerra de classes” pelo andar de cima nos últimos períodos, isto é, o acirramento da tradicional luta de classes e da polarização social, não é suficiente per si, para os revolucionários, apenas uma análise teórica racional acerca da “revolução brasileira” e da almejada superação do sistema, muito embora, necessitemos de tal instrumental categorial para concebermos um diagnóstico correto da realidade concreta, pois, é evidente que sem diagnóstico e sem prognóstico a medicação pode vir com sua dosagem incorreta, mas é preciso ir além disso, pois, “classe” é processo, movimento, fluido, ou seja, constitui-se na luta e forja-se no movimento real de suas necessidades imediatas e históricas, não é somente uma composição objetiva.

Nesta gama, o fator subjetivo da “classe” é elemento crucial para uma oportunidade transformadora. Para o ardor da força revolucionária é preciso ter ódio à ordem vigente e amor aos explorados, sentimentos de impulsão que possibilitem um salto qualitativo de “classe em si” para “classe para si” e alcem o ser coletivo à transformação social

Nesta sociedade fraturada em duas grandes classes, capital e trabalho, onde os capitalistas exploram e oprimem o povo, não podemos devolver o ódio da classe burguesa contra os despossuídos com a resignação, ou seremos atropelados, esmagados. O ódio aos exploradores é um meio de defesa contra as injustiças desta sociabilidade desigual, engendrada pelo sistema capitalista. São necessários dois grandes sentimentos para que se possa superar este mundo velho, o amor e o ódio, como já dizia o nosso estimado Bertolt Brecht: “A grande arte exige amor e ódio”.

É primordial combinar ambos os sentimentos, entender as contradições do processo histórico, compreender essas duas categorias como uma mesma unidade, mas de diversos, sentimentos opostos que coexistem na mesma medida, um sendo a baliza do outro, o início e o fim deles se interligam, a heterogeneidade se confunde com a homogeneidade e vice-versa, pasmem, a coisa em si consegue ser algo e não ser ao mesmo tempo, ela é e não é afetuosa, ela é e não é desafetuosa. Um sentimento não consegue viver sem o outro, apesar deles se contradizerem, concomitantemente se complementam, como uma borboleta dentro do casulo, que em seu estágio final de transformação luta para ser livre e deixar o casulo, a expressão máxima e aparente de uma contradição, uma luta, uma forma de repelir-se, uma incompatibilidade, o invólucro filamentoso aparenta em seus últimos segundos aprisionar o sonho de liberdade da borboleta, mas em essência, sem essa capa de proteção não haveria a metamorfose do ovo em larva, a pupa e o estágio adulto até o último desenvolvimento da espécie em questão, portanto, a aparente contradição esconde uma íntima ligação de necessidade interdependente, um não existiria sem o outro, assim também ocorre com o amor e o ódio e as suas intimas ligações nas circunstâncias aqui analisadas (evidentemente que não em outras questões interpessoais diversas), demonstram congruências e incongruências, convergências e divergências, consensos e dissensos, teses e antíteses, um constante paradoxo indecifrável.

O amor acentuado aos nossos, aos explorados e oprimidos, e o ódio intenso aos exploradores, a abominação por aqueles que nos impendem de sonhar, que destroem nossos direitos e que matam o povo todos os dias a sangue frio com seu instrumento de coerção e dominação estatal criminoso de caráter classista e racista. Repise-se, ódio aos que nos impedem de sonhar ou não poderemos mais sonhar, contra aqueles que nos dominam, nos exploram e aprisionam nossas aspirações de um mundo igualitário dentro de uma caixa. É uma equação que não possibilita escapatória, devemos ter ojeriza, aversão, repugnância a todos eles, que são apenas 1% da sociedade, mas que subjugam os outros 99% a seu bel prazer, aqui não se trata de um ódio individualizado ou personalista, é um ódio à estrutura social, à classe e ao capitalismo, busquemos a lucidez de escaparmos das individualizações que são da índole dos exploradores, a nossa revolta é estrutural, não somos semelhantes aos dominadores, eles FEDEM! O cheiro que exalam causa náuseas, uma ânsia de êmese. É o cheiro da indiferença, da barbárie, da exploração, da opressão. Fétidos! E esse péssimo odor que perpassa pelo seio social só será extinto quando a vossa classe estiver extirpada das nossas relações sociais de produção e possamos conviver em uma sociedade sem classes, sem Estado, sem Direito e que seja comunitária. Até lá, teremos que usar muito perfume, com aroma muito forte para que não sejamos abafados pelo descomunal fedor burguês. Só que o nosso perfume tem a marca famosa e internacional da resistência, da luta e da revolução.

É pertinente salientar que anteriormente ao ódio nutrido pelo sistema, floresce o amor aos explorados e oprimidos, o amor entre a maioria da população, que é a substância que faz nascer a vontade de mudança, o seu ímpeto mais puro e límpido, porém, retornemos de forma dialética ao fato de que a simples vontade da alteração do real e o amor não podem constituir sozinhos a potência aniquiladora do sistema capitalista, a posteriori, e em conexão com este amor aos oprimidos supracitado, germina e brota o ódio à classe burguesa que oprime, entrelaçando-se ao fraterno sentimento de afeto aos trabalhadores, sensações que, a priori, aparecem como contraditórias, por fim, mostram-se como indispensáveis entre si, desta simbiose nasce a esperança no futuro, uma equação com fatores e produto que agradaria a todo bom jovem Hegeliano que não compreendeu profundamente o seu próprio mestre e o aprendeu de forma manualesca e rasa, a tese representada pelo amor, a antítese pelo ódio, e a síntese seria a esperança de um mundo melhor, ai está o espírito vital da revolução. O hino da internacional nunca foi tão atual, “paz entre nós e guerra aos senhores.”.

Reduzir o idealista alemão a esta simplória esquemática tripartida é, consequentemente, um erro interpretativo muito comum, entretanto, não estamos aqui tratando de teoria pura ou rigor científico, mas sim, de sentimentos, e o ponto central e nevrálgico é que na discussão em evidência o caráter de circularidade dos processos se rompe e assume um movimento em espiral de eterna transformação do antigo, no melhor estilo materialista da conservação, crítica e superação.

Portanto, parece-me que as três etapas retromencionadas trazem do concreto ao abstrato e, do abstrato ao concreto, a vivificação das mais fortes e ardentes sensações que pairam e ondulam aos ares desta sociedade em plena decomposição, sem que tudo se reduza a elas, obviamente, nem mesmo almejando ser mecanicista, reducionista, determinista ou algum “ista” da moda que o valha. Neste caso, poderemos recorrer a elas sem nenhuma pusilanimidade de sermos denonimados reducionistas ou na pior das hipóteses de dasvairados, em detrimento de uma suposta “ação comunicativa” inovadora que irá solucionar os “paradigmas” contemporâneos. Estamos livres para reivindicar o ódio de classe contra o capitalismo, não enquanto desejo, mas como uma necessidade histórica de uma época vil e, seguramente, passageira.

Pelo amor à classe trabalhadora, pelo ódio ao sistema do capital, e pela esperança de um futuro melhor!


Referencias 

[1] Graduado em Direito pela Universidade Católica do Salvador. Endereço eletrônico: caique_sobreira@hotmail.com.

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