Por Pavel Blanco Cabrera, via El Machete, traduzido por Carlos Motta
Pavel Blanco Cabrera é Primeiro Secretário do Comitê Central do Partido Comunista do México. Escrito para a Propuesta Comunista, revista teórica do Partido Comunista dos Povos da Espanha (PCPE), e publicado em maio de 2016 pelo Editorial do jornal El Machete, do Partido Comunista do México.
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[…] o resultado mais importante da primeira guerra mundial foi a ruptura da frente imperialista e o afastamento da Rússia do sistema mundial do capitalismo, e se, em seguido à vitória do regime socialista na URSS, o capitalismo deixou de ser o sistema universal único da economia mundial […]
Andrei Jdánov[1]
A Segunda Guerra Mundial, que culminou com a vitória antifascista, impôs uma nova correlação de forças internacionalmente, que se construiu nas Conferências de Teerã, Ialta e Potsdam e se materializaria no surgimento da Organização das Nações Unidas.
Essa correlação não resultou de um enfrentamento interimperialista pela distribuição de territórios e mercados, pela busca de uma melhor posição na pirâmide imperialista, pois a natureza da Segunda Guerra Mundial foi a busca pela destruição do socialismo no URSS, que em princípio contava com a cumplicidade e o aval dos países envolvidos no conflito, mesmo aqueles que mais tarde viriam a fazer parte dos Aliados. É sabido que a Inglaterra tinha entre seus objetivos a liquidação do socialismo – “afogar a criança no berço” – desde 1917, ano em que triunfou a Grande Revolução Socialista de Outubro e se estabeleceu o poder dos sovietes, isto é, o poder dos operários e camponeses. Os EUA esperaram para ver como seriam definidas as forças[2], mas mesmo avançado na guerra, fortes laços comerciais e financeiros foram mantidos entre os monopólios dos EUA e os da Alemanha nazista. Pode-se afirmar que em geral os países imperialistas tiveram uma cumplicidade tácita com os objetivos anticomunistas do fascismo alemão e com a política belicista de Hitler, que esperava a derrota da URSS[3] como um país que construía um novo mundo.
A construção socialista na URSS foi um fato inquestionável após a derrubada da velha ordem; com a coletivização do campo e a industrialização, baseada no poder operário, na socialização dos meios de produção, no planejamento centralizado, surgiu uma nova sociedade que representava o anseio dos explorados do mundo; trabalhadores de todos os cantos do planeta viram na nova vida um exemplo a seguir e se organizaram de acordo, desafiando a repressão da classe dominante. Na URSS, trabalho, saúde, moradia, educação, cultura eram garantidos ao proletariado; a emancipação das mulheres avançava a passos largos; as crianças cresceram em condições diferentes das de seus pais e avós, que desde cedo tiveram que trabalhar sob um vergonhoso regime de semi-escravidão. As estatísticas não mentem: a vida nova teve seu caminho aberto com a revolução proletária, com a construção do socialismo-comunismo, com muito otimismo, apesar dos sacrifícios e dificuldades causados pela contrarrevolução interna e externa.
Consequentemente, a URSS também se tornou uma base de apoio para o proletariado e sua luta em escala internacional, primeiro, com a construção de um país multinacional; com a formação da Internacional Comunista, que permitiu a organização de partidos comunistas em boa parte do mundo, acelerando positivamente a luta de classes no contexto da crise geral do capitalismo iniciada em 1929; levantes revolucionários estavam por toda parte e receberam o firme apoio do poder soviético: na Hungria, Turim, Xangai, Brasil com a Coluna Prestes, o triunfo do poder popular na Mongólia. As lutas revolucionárias na China e na Espanha republicana contaram sempre com o apoio da União Soviética, apoio que, frisamos, não se manifestou apenas em declarações de solidariedade, mas numa política concreta e tangível de vidas e bens.
Junto com o Comintern, a Internacional Comunista da Juventude, o Profintern – ou seja, os partidos comunistas, a juventude comunista e a Internacional dos Sindicatos Vermelhos –, que ajudaram a forjar o movimento comunista, houve também um trabalho silencioso mas vital para traduzir as obras do marxismo-leninismo em diferentes idiomas, proporcionando uma ajuda extraordinária para a fusão do socialismo científico com o movimento operário. Para aqueles de nós que subscrevemos a tese marxista de que as ideias podem se tornar uma força material, o papel das Edições em Línguas Estrangeiras (e seus nomes sucessivos) do Instituto Marx-Engels-Lenin-Stalin em Moscou, do aparato de traduções do Comintern para colocar os clássicos à disposição dos trabalhadores do mundo, potencializou fortemente e até hoje as ações de todas as forças revolucionárias.
O papel da URSS, altamente subversivo, foi compreendido pela reação; e diante da onda revolucionária, o imperialismo desencadeou a força contrarrevolucionária do fascismo, permitiu o rearmamento da Alemanha e incentivou o papel belicista dos monopólios que se expressavam politicamente no partido nazista e na doutrina especificamente designada “anti-Comintern”.
O caráter da guerra que se preparava era muito claro para a Internacional Comunista e suas seções nacionais; a defesa da URSS era a defesa do socialismo e da perspectiva revolucionária; no VII Congresso ocorreu uma mudança tática, expressa no relatório de Dimitrov, nesse sentido, ou seja, fazer tudo pela defesa da URSS, país do socialismo, com a linha de frente popular.
Na URSS – e podem ser estudados os materiais do XVIII Congresso do Partido Comunista Bolchevique da URSS – há uma intensa preparação para o confronto. O Estado soviético é forçado a uma série de manobras para ganhar tempo, melhorar as condições para o confronto com a máquina de guerra do Terceiro Reich.
Embora o campo de batalha da Grande Guerra Patriótica seja maioritariamente em território soviético, a verdade é que como uma guerra que visa a liquidar o socialismo, a luta está a ser travada em várias frentes, com uma estratégia unificada dos comunistas mundiais. Tanto a ação do Exército Vermelho, dos guerrilheiros soviéticos, do Partido Comunista (bolchevique) totalmente mobilizado, quanto a ação dos guerrilheiros por toda a Europa e a ação antifascista clandestina, na qual os comunistas se destacaram (inclusive dentro da Alemanha nazista, onde houve grande resistência), bem como a luta das frentes populares e do movimento operário mundial exigindo a abertura da segunda frente na Europa e a aliança antifascista, influenciaram decisivamente o curso da guerra e a configuração da ordem do pó-guerra.
A resistência heróica de Moscou e Leningrado, bem como a derrota nazista em Kursk e Stalingrado, definem o curso da Segunda Guerra Mundial, que não vai parar até que em Berlim, no Reichstag, tremule a bandeira vermelha com a foice e o martelo do comunismo internacional, do poder dos trabalhadores. Ficam os 27 milhões de soviéticos mortos e os grandes custos da infraestrutura socialista, sacrifícios heróicos do proletariado. Como sabemos, a abertura da segunda frente é decidida quando o desfecho da guerra já está definido.
A derrota da Alemanha nazista e do Japão, bem como o papel libertador da URSS em toda a Europa Oriental, inauguram uma nova ordem internacional. Uma correlação de forças se impõe em favor do socialismo. É verdade que houve alguma confusão entre os comunistas devido à aliança antifascista, e que uma tendência oportunista, matriz do eurocomunismo, das frentes nacionais de colaboração de classes expressa por Earl Browder[4], originou-se em grande medida devido à ausência de uma estratégia unificada após a dissolução da Internacional Comunista, e que vislumbrava a colaboração dos Aliados a longo prazo; isso é refutado com o surgimento do Bureau de Informação dos Partidos Comunistas e Operários (Cominform) e a importante abordagem de Andrei Jdánov, da qual é necessário citar alguns parágrafos:
[…] o caráter de libertação antifascista da guerra, a parte decisiva desempenhada pela União Soviética na vitória sobre os agressores fascistas, tudo isto modificou profundamente a correlação de forças entre os dois sistemas — socialista e capitalista — em favor do socialismo. […]
Como resultado da guerra, aumentaram em medida incomparável a importância internacional e a autoridade da URSS. A URSS foi a força dirigente e a alma do esmagamento militar da Alemanha e do Japão. Em torno da URSS, reuniram-se as forças democráticas progressistas do mundo inteiro. O Estado socialista superou a terrível prova da guerra, e saiu vitorioso do conflito mortal com o mais forte dos inimigos. A União Soviética saiu da guerra, não debilitada, mas reforçada. […]
As profundas transformações havidas na situação internacional e na situação dos diversos países, em seguida à guerra, mudaram todo quadro político mundial. Formou-se um novo reagrupamento das forças políticas. Quanto mais nos afastamos dos fins da guerra, tanto mais nítidos ficam as duas principais direções da política mundial do após-guerra, correspondentes à disposição em dois campos principais das forças políticas que operam na arena mundial: de um lado, o campo imperialista e anti-democrático, e de outro o campo anti-imperialista e democrático.[5]
A ilusão de que a coalizão anti-Hitler duraria além do fim da guerra foi destruída pela decisão dos Estados Unidos de lançar bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, uma clara advertência contra a União Soviética. No entanto, isso não altera em nada a correlação de forças conquistadas e sua progressiva influência no mundo. O importante é considerar que a natureza de uma organização internacional ou de uma dada situação em termos de relações internacionais obedece, em primeiro lugar, à correspondência intrínseca entre política interna e política externa das partes envolvidas e à correlação objetiva de forças, o que não é estático e depende do fluxo e refluxo da luta de classes e das mudanças repentinas da história, então a única abordagem permissível em tal assunto para os marxistas-leninistas é a abordagem de classe. Para o proletariado, para os comunistas, sua ação, sua estratégia, suas táticas se baseiam na natureza de classe do conflito.
A ameaça atômica, a Doutrina Truman e o Plano Marshall, a política agressiva dos Estados Unidos que desloca a Inglaterra do topo da pirâmide imperialista após a Segunda Guerra Mundial, colidem com a existência objetiva do campo socialista, que tem três expressões na política internacional:
a) Em primeiro lugar, a adoção das políticas do Estado de Bem-Estar Social para conter a ascensão da luta de classes, como válvula que permite escapar da pressão social acumulada e diminui a força dos partidos comunistas (contra os quais são desencadeadas medidas repressivas, como o macarthismo nos EUA, ou operações para corroer sua identidade comunista, como nos casos da Itália, França, Espanha). Ou seja, o avanço do socialismo levou os Estados capitalistas a reconhecer até certo ponto as reivindicações da classe trabalhadora.
b) Um quadro internacional favorável à descolonização e libertação nacional. A correlação de forças do socialismo fez com que em vários casos fossem impostas na ONU resoluções favoráveis aos povos. No entanto, a ONU jamais deve ser julgada fora dessa correlação de forças, pois quando ela se altera, a ONU torna-se um instrumento exclusivo do imperialismo.
c) Uma margem para políticas de desalinhamento, para um certo desenvolvimento de algumas nações, que, entretanto, só tem razão de existir enquanto se mantiver a correlação de forças.
Ou seja, a existência da URSS e do campo socialista, com sua força política, econômica e militar, em correspondência com os princípios do internacionalismo proletário como Estados determinados por sua natureza de classe, romperam a unipolaridade dos tubarões imperialistas, que até então, baseados nos interesses de seus monopólios e apoiados na força de seus exércitos, poderiam fazer o que quisessem, dividindo o mundo. O mapa do mundo mudou. Grandes países como a China e a Índia deixaram de ser países colonizados.
Basta revisitar os mapas anteriores à Primeira e à Segunda Guerra Mundial para entender que o socialismo, primeiro com a Rússia soviética e depois com o campo socialista, teve uma influência libertadora no planeta: os países da África e da Ásia devem sua independência a esse fator . O triunfo da Revolução Chinesa e a constituição de sua República Popular são impensáveis sem tal equilíbrio de forças. O triunfo das Repúblicas Democráticas Populares da Coreia e do Vietnã são compreensíveis apenas pelo papel ativo do socialismo, assim como a existência da Revolução Cubana, que a poucos quilômetros dos Estados Unidos, no continente americano, proclamou seu caráter socialista. Sem a existência do campo socialista, qualquer processo teria sido submetido a sangue e fogo pela contrarrevolução internacional, e não é à toa a lembrança da Crise dos Mísseis no Caribe em 1961, em que o guarda-chuva nuclear soviético acompanhou a firme decisão do povo cubano de enfrentar a agressão imperialista.
Com a contra-revolução dos anos 90 que levou à derrubada da construção socialista na URSS e outros países, a correlação de forças que se tinha conseguido em nível internacional foi alterada.
A Perestroika e a Glasnost e a expressão gorbatchoviana das relações internacionais da Nova Mentalidade não surgiram repentinamente, mas através da gestação de um processo onde as relações comerciais foram predominando sobre as relações socialistas na economia, até finalmente levar à derrubada temporária da construção socialista . Divergimos daqueles que consideram que o processo socialista foi interrompido em 1956 com o XX Congresso do PCUS, ou com a morte de Josef V. Stalin, e consideramos que foi um longo processo até o triunfo contrarrevolucionário que teve seu desfecho entre o Pleno de Abril do PCUS, em 1985, e o 24 de dezembro de 1991, quando a bandeira vermelha foi baixada do Kremlin. Sob essa consideração, apesar de algumas contradições, como resultado da luta de classes que ocorreu no contexto dessa disputa na economia socialista, por exemplo, a absolutização da coexistência pacífica e evitando a todo custo o confronto nuclear[6], o papel da União Soviética e o campo socialista mantiveram uma influência progressista, por exemplo, no fim do apartheid na África do Sul.
No momento em que já predomina a contrarrevolução, e Gorbatchóv à frente do Estado trai o Pacto de Varsóvia[7], entregando a República Democrática Alemã[8], no cenário internacional começa a prevalecer o que hoje se chama de unipolaridade, onde os povos e as nações permanecem à mercê absoluta do imperialismo, com a intervenção imperialista no Panamá em 1989 e a primeira Guerra do Golfo.
A ONU torna-se um instrumento do imperialismo e como afirma Eliseos Vagenas, “o Direito Internacional piorou radicalmente nos últimos vinte anos. Na medida em que o Direito Internacional é moldado apenas pelos estados capitalistas e não é o resultado da correlação entre os estados capitalistas e socialistas, só pode ser pior para os povos e a classe trabalhadora nos países capitalistas”[9]. Mais adiante ele afirma, e nós concordamos: “A posição dos comunistas em relação à ONU não deve permanecer inalterada; deve levar em conta o equilíbrio de forças dentro da ONU que hoje, dada a ausência da URSS, é claramente a favor do imperialismo”[10].
Tal unipolaridade se manifesta como barbárie; só a guerra do Iraque registra mais de meio milhão de mortos, mas o rosto da morte na Iugoslávia, em países da África e do Oriente Médio, está abrindo caminho com pretextos improváveis para monopólios em busca de novos mercados, recursos naturais, matérias-primas baratas, mão de obra, rotas para suas mercadorias. Que confiança o povo pode ter na ONU se ela legaliza mentiras como a suposta posse de armas de destruição em massa no Iraque, que nunca foi provada; se endossa o terrorismo de Estado disfarçado de antiterrorismo[11] que o imperialismo desencadeou depois de 11 de setembro de 2001.
Há, portanto, uma grande esperança em um mundo multipolar, mas é injustificada.
É verdade que a desideologização está sendo superada lentamente e respostas anti-imperialistas estão sendo dadas; que, por exemplo, na América Latina, os países bolivarianos estão quebrando o domínio do centro imperialista norte-americano no Continente; que são produzidas alianças interestatais, como a Organização de Cooperação de Xangai[12], e agora os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul), que são consideradas progressistas, devido ao foco limitado de restringir o anti-imperialismo ao antiamericanismo, ou o enfoque geográfico do sul contra o norte e consideram a cooperação sul-sul como um caminho de desenvolvimento.
Mas qual é a natureza de classe dessas alianças interestatais? Mercosul, BRICS, ALBA são determinados pelo modo de produção capitalista. No caso dos BRICS, saudados com entusiasmo pelo progressismo, as contradições com os EUA ocorrem estritamente em quadros interimperialistas[13]. É a disputa pelo topo da pirâmide do imperialismo. O papel dos BRICS pode ser caracterizado nas regiões, e dentro de cada um desses países, onde os ataques à classe trabalhadora são selvagens, onde tudo é feito para favorecer seus próprios monopólios. O papel do Brasil na América do Sul pode ser considerado progressista? Quando comandou a ocupação do Haiti, quando fabricou aviões de guerra que a Colômbia adquiriu e usou para combater as FARC-EP. E quanto à Rússia, Índia ou África do Sul? Há quem defenda que a China é socialista, mas o estudo de sua economia indica que predomina o capitalismo. De onde a soma das economias capitalistas pode trazer um resultado anti-imperialista?
O que o povo pode esperar? A multipolaridade é uma ilusão, pois não há dois mundos em disputa, mas a continuação do capitalismo em sua fase imperialista em todos esses casos. Os argumentos para embelezar os centros imperialistas que disputam a hegemonia com os EUA ou a União Europeia não escondem seu caráter explorador e sanguinário e suas aspirações por uma nova divisão do mundo, nem que tais rivalidades interimperialistas possam desencadear uma nova guerra mundial.
Os trabalhadores têm algo a ganhar? O Partido Comunista da Grécia aponta com razão: “o movimento operário deve dizer ‘Não’ aos centros imperialistas, independentemente de sua sede geográfica e continuar sua luta com base nos interesses e necessidades dos trabalhadores sem perder sua perspectiva, que é a derrubada do capitalismo e a construção do socialismo”[14].
Um argumento que se utiliza contra nossa posição é o caráter tático das disputas interimperialistas e como elas podem repercutir favoravelmente aos interesses dos povos. No entanto, tal posição descarta a substância do conflito, ou seja, a contradição capital/trabalho. Não é negado pelo movimento comunista ou por qualquer país onde seja possível romper a cadeia imperialista em seu elo mais fraco, realizando manobras, mas mais cedo ou mais tarde os antagonismos são claros.
A bandeira da multipolaridade não pode pertencer aos comunistas e, claro, tampouco pode ser a proposta que os comunistas fazem à classe trabalhadora e aos povos. O mundo multipolar pressuposto pelos ideólogos da Nova Arquitetura é o prolongamento do imperialismo por meio de uma nova distribuição de mercados, força de trabalho e matérias-primas. Trocar um centro imperialista por outro, um explorador por outro, não é alternativa. Não é por acaso que é a palavra de ordem da social-democracia e do progressismo. É preciso lutar contra o imperialismo, rompendo o sistema imperialista, rompendo os elos da corrente, conduzindo os povos pelo caminho do desenvolvimento do socialismo-comunismo, que, como o demonstrou a existência da URSS e do campo socialista, é o que expressa o fim da hegemonia.
A multipolaridade será apenas um slogan para alianças interestatais de natureza capitalista enquanto for uma plataforma para disputar o centro que dirige o sistema imperialista.
Entretanto, para os comunistas, para aqueles proletários que levantam a bandeira do marxismo-leninismo, a luta contra qualquer união interestatal de natureza capitalista é uma questão de princípio, uma necessidade objetiva da estratégia revolucionária, descartando qualquer ilusão e evitando semear a confusão que depois podem custar caro para os povos, para a humanidade, para uma perspectiva de emancipação.
O socialismo-comunismo é a única opção contra a unipolaridade ou multipolaridade, roupagem diferente do sistema imperialista e sua barbárie, que pode levar à extinção da raça humana se não a derrubarmos.
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Notas:
[1] JDANOV, Andrei. Pela Paz, a Democracia e a Independência dos Povos. Problemas – Revista Mensal de Cultura Política nº 5 – Dezembro de 1947. Disponível em: https://www.marxists.org/portugues/zhdanov/1947/09/paz.htm
[2] […] as vítimas humanas dos Estados Unidos, em confronto com as dos outros países, não foram numerosas, tendo os Estados Unidos tomado parte, de fato, apenas da última fase da guerra, quando a sua sorte já estava decidida. Para os Estados Unidos, a guerra serviu sobretudo como impulso a um vasto desenvolvimento da produção industrial e ao reforçamento decisivo da exportação (principalmente para a Europa).
O término da guerra colocou diante dos Estados Unidos uma série de novos problemas. Os monopólios capitalistas esforçaram-se para manter o nível elevado dos lucros atingidos durante a guerra. Com este escopo, procuraram fazer com que o volume das encomendas do tempo de guerra não fosse reduzido. Para alcançar este objetivo era, porém, necessário que os Estados Unidos conservassem todos os mercados exteriores que absorviam durante a guerra a produção americana e que conquistassem novos mercados, uma vez que, no após-guerra, a capacidade de aquisição da maioria dos países diminuiu nitidamente. Também aumentou a dependência financeiro-econômica destes países com relação aos Estados Unidos. […] [JDANOV, Op.cit.]
[3] Isso é relatado por A. Jdánov em seu discurso na reunião que deu origem ao Cominform, mas também é demonstrado em textos recentes como The Myth of the Good War: America in the Second World War, de Jacques R. Pauwels (Toronto: James Lorimer, 2002).
[4] Especialmente em “Teerã: nosso caminho na guerra e na paz” (BROWDER, Earl. Teheran: Our Path in War and Peace. Nova Iorque: International Publishers, 1944. Disponível em: https://www.marxists.org/archive/browder/1944/teheran-path.htm) e na proposta de transformar o Partido Comunista dos Estados Unidos em uma associação política, algo como um clube de difusão ideológica, na prática a liquidação do Partido com suas características leninistas; influenciar negativamente Cuba e Colômbia, onde os partidos mudam de nome sob essa influência; no México ocorre a transformação do Partido Comunista do México em Partido Comunista Mexicano, o Comitê Central é substituído por um Comitê Nacional, adota-se a política de unidade nacional, dissolvem-se as células dos centros de trabalho e segue-se um caminho semelhante ao do Partido dos Estados Unidos, com a Liga Socialista Mexicana, que era um centro de difusão socialista, que, embora não renunciasse à ação política, na verdade a sujeitava a alianças com a chamada “burguesia nacional”.
[5] JDANOV, Op.cit.
[6] Isso leva a colocar com Gorbatchóv ideias que rejeitam a luta de classes, como a de que “Somos todos passageiros a bordo de um navio, a Terra, e não devemos permitir que ele afunde. Não haverá uma segunda Arca de Noé” (GORBACHEV, Mikhail. Perestroika. Novas idéias para o meu país e o mundo. São Paulo: Nova Cultural, 1987).
[7] O Pacto de Varsóvia como oposição à OTAN foi uma manifestação dessa correlação de forças no campo militar durante o período da Guerra Fria.
[8] Também é importante o que V. Vorotnikov aponta em Minha verdade (VOROTNIKOV, Vitali Ivánovitch. Mi verdad. Notas y reflexiones del diario de trabajo de un miembro del Buró Político del PCUS. Havana: Casa Editorial Abril, 1995), que relata que o resultado da contrarrevolução na Romênia foi decidido pelo traidor Gorbatchóv.
[9] VAGENAS, Eliseos. El carácter clasista y el conflicto ideológico en las relaciones internacionales. Temas actuales del movimiento comunista. Colección de artículos y contribuciones. Atenas: Comitê Central do Partido Comunista da Grécia, 2010.
[10] Idem.
[11] E não podemos esquecer o papel das forças oportunistas que aderiram ao discurso “antiterrorista”, condenando a resistência dos povos e adotando a tese da não-violência.
[12] No Encontro Internacional dos Partidos Comunistas e Operários que se reuniu em Atenas em 2002, alguns dos partidos presentes expressaram simpatia por essas posições, argumentando a natureza progressista da multipolaridade. [NT: Os documentos do 4º EIPCO, de 2022, podem ser encontrados em http://www.solidnet.org/meetings-and-statements/imcwp/4th-international-meeting-of-communist-and-workers-parties/. As declarações do Partido Comunista da Argentina (http://www.solidnet.org/article/4th-IMCWP-Contribution-of-Communist-Party-of-Argentina/), do Partido do Trabalho da Coreia (http://www.solidnet.org/article/4th-IMCWP-Contribution-of-Workers-Party-of-Korea/), do Partido Comunista do Vietnã (http://www.solidnet.org/article/4th-IMCWP-Contribution-of-Communist-Party-of-Vietnam/), do Partido Comunista da Venezuela (http://www.solidnet.org/article/4th-IMCWP-Contribution-of-Communist-Party-of-Venezuela/), do Partido Socialista do Trabalho da Romênia (http://solidnet.org/article/4th-IMCWP-Contribution-of-Socialist-Party-of-Labour-in-Romania/) são as que mencionam o tema da “multipolaridade”.]
[13] No caso do recente conflito com a Síria e a posição russa de defendê-la, isso fica bem demonstrado, com a declaração de Putin na Cúpula do G-20 em setembro: “A Rússia vende armas para a Síria, temos fortes laços econômicos. A Síria é nosso parceiro estratégico.”. Disponível em: https://ctb.org.br/noticias/internacional/no-encerramento-do-g-20-russia-reafirma-que-vai-ajudar-a-siria/
[14] VAGENAS, Op.cit.