Por Pedro Mauad
Gostaria de apresentar algumas considerações sobre a relação entre filosofia e ciência em Hegel. Porém, mais do que expor o posicionamento hegeliano frente a ciência de sua época, pretendo partir dessa posição para refletir sobre a ciência em sua acepção atual. Em outras palavras, trata-se de pensar, do ponto de vista da filosofia de Hegel, sobre nossa experiência e compreensão disso que convencionou-se chamar realidade (material) que as ciências explicam e determinam, na medida em que são uma teoria do real.
O que hoje consideramos ser a Ciência, no sentido do paradigma moderno de ciência, como por exemplo, a Física, a Química e a Biologia eram, por Hegel, denominadas ciências empíricas [empirische Wissenschaften], particulares [besonderen Wissenschaften] entre outras denominações semelhantes, e foram apresentadas em sua “Filosofia da Natureza”: a Mecânica, que analisa espaço e tempo, matéria e movimento, a Física, que estuda corpos, gravidade, som, calor, processo químico, etc., e a Física Orgânica, que examina a natureza geológica, vegetal e animal. Por outro lado, Ciência [Wissenschaft] para ele era um sistema do conhecimento, uma totalidade, em que não só as ciências naturais estariam inclusas, mas também e principalmente a filosofia – que por vezes era denominada ciência especulativa [spekulativen Wissenschaft]. Melhor dizendo, a Ciência era o próprio sistema[1] filosófico de Hegel, e teve sua expressão acabada na Enciclopédia das Ciências Filosóficas em suas três partes: Lógica, Natureza e Espírito. Entretanto, longe de significar uma subordinação dessas ciências à filosofia, Hegel pretendia traçar seus pontos de convergência a partir de suas diferenças, pois ele entendia que cada uma, ao seu modo, complementaria a outra
A relação da ciência especulativa [spekulativen Wissenschaft] com as outras ciências [den anderen Wissenschaften] só existe enquanto a ciência especulativa não deixa, como de lado, o conteúdo empírico das outras, mas o reconhece e utiliza; e igualmente reconhece o universal dessas ciências – as leis, os gêneros, etc, – e o utiliza para seu próprio conteúdo; mas também, além disso, nessas categorias introduz e faz valer outras. A diferença refere-se, nessa medida, somente a essa mudança das categorias[2].
Para Hegel faltava, no entanto, a filosofia ser elevada a condição de ciência[3], e como ele mesmo afirma em uma carta de 1822, endereçada a Duboc: “Propus-me trabalhar na elevação da filosofia à ciência e os meus trabalhos até agora, decerto em parte imperfeitos, em parte inacabados, têm apenas este fim”[4]. Também podemos ler afirmações semelhantes a essa no prefácio da Fenomenologia do Espírito[5]. Ou seja, somente as ciências naturais não formam a totalidade da Ciência, e tão pouco a filosofia que não as compreende e elabora[6], no sentido de uma Aufhebung. Não que a filosofia precise utilizar os métodos dessas outras ciências, muito pelo contrário, como ele deixa claro no Prefácio à Ciência da Lógica[7], o ponto de vista essencial, que a filosofia deve tomar para si é “a natureza do conteúdo, a qual se move no conhecer científico [wissenschaftlichen Erkennen], sendo ao mesmo tempo esta reflexão mesma do conteúdo, que somente põe e produz a sua determinação mesma.” Como lemos no parágrafo da Enciclopédia citado anteriormente, é uma diferença que se refere a uma mudança das categorias[8]. Um belo exemplo , se me permitem uma digressão, da genialidade hegeliana que, com isso, e sobretudo ao seu modo, reconcilia a metafísica de Aristóteles, o método – e a subjetividade – cartesiano com a crítica implacável de Kant. A Filosofia tanto é primeira (peri philosophia), enquanto fundamental, como Aristóteles a compreendia, como também está além da natureza (physis), no sentido de não se limitar ao sensível; mas o modo como a filosofia (de Hegel) se coloca frente às ciências naturais é de quem compreendeu muito bem a filosofia kantiana, tão bem que conseguiu pensar além: o idealismo (dialético-especulativo) de Hegel já não tem nada pra fazer no tribunal da razão kantiano. Mesmo assim, muitas vezes hoje é possível ouvir Hegel dizer diante dos inúmeros ataques que sofre por conta de seu “idealismo”, “leiam-me e verão que já não ponho as questões como eram postas por vocês, que já não as formulo à sua maneira.”[9] Entretanto, caberá a nós, aqui, pensarmos que conteúdo é esse de que fala Hegel, e de que modo esse pensamento sobre o conteúdo, que a filosofia realiza, produz tanto a si como ao próprio conteúdo através de sua determinação.
Hegel afirma, no primeiro parágrafo da E.C.F., que “a filosofia não tem a vantagem de que gozam as outras ciências, de poder pressupor seus objetos como imediatamente dados pela representação; e também como já admitido o método do conhecer.” Por não pressupor seu objeto como imediatamente dado, a filosofia se distingue das outras ciências na medida em que se vê obrigada a pensar e colocar para si mesma seus próprios pressupostos, pois não tem a vantagem que têm as outras ciências. Ora, isso quer dizer que a filosofia não pode partir do ponto de vista que parte o cientista: pressupor seu objeto de estudo como algo dado de forma imediata, isto é, sem mediação subjetiva[10]. A matemática, por exemplo, que serve de parâmetro para os procedimentos da física moderna, serve-se de uma linguagem representativa que não demonstra os pressupostos de suas proposições axiomáticas. O método matemático utilizado para a análise dos fenômenos naturais na física (newtoniana), representa de forma abstrata, mesmo que formal, a realidade, pois seus conceitos, como massa, velocidade e etc., não são tratados em sua constituição e relação essencial, mas já pressupostos como formas imediatamente reais.
Tacitamente, então, para a ciência moderna, tudo se passa como se existisse uma realidade objetiva, mesmo que fenomênica, que o método científico tem acesso, independente do conceito que se tem sobre essa própria realidade. Supõe-se que há uma matéria do pensamento que lhe vem de fora em si e por si mesma, como se já fosse um mundo consumado a priori; e o pensamento, então, só escapa de seu aparente vazio se encher-se dessa matéria. No entanto, para Hegel não há realidade em sentido estrito enquanto algo positivamente existente. Nas palavras do filósofo alemão, “o pensar é essencialmente a negação de algo imediatamente dado.” [11] Basta lembrarmos do primeiro capítulo da Fenomenologia do Espírito, a certeza sensível, para percebermos a dialética presente nessa problemática: o sensível, ou seja, a coisa, aquilo que é visado, não é atingido pela consciência, é somente pelo universal da linguagem que falamos da coisa. Para além disso que dizemos não há nada, apenas o não inteligível, o puramente visado. A coisa, portanto, é uma multiplicidade que não deve ser confundida com uma positividade exterior em si; ao contrário, ela só é enquanto relação dialética com a consciência e na medida em que é mediada pela universalidade da linguagem. Segundo Hegel, o falar tem a natureza divina de inverter imediatamente o ‘visado’. O falar carrega em si uma negatividade que sempre acaba por modificar também a coisa da qual se fala. E isso acontece porque, como observado por Losurdo, “a negatividade não é apenas uma atividade do sujeito, mas é inerente, em primeiro lugar, à própria objetividade. Se o negativo ‘aparece como desigualdade do Eu em relação ao objeto, ele é também a desigualdade da Matéria em relação a si mesma.”[12]
Também na Fenomenologia do Espírito, no capítulo sobre o Entendimento, Hegel expõe detalhadamente a indistinção entre os conceitos e as entidades materiais. Lá se demonstra de que modo, nas palavras de Ludwig Siep, “a experiência da consciência conduz à compreensão de que mesmo o que declaramos constituir o ser das coisas em si mesmas possui a estrutura da subjetividade.”[13] Nós vemos que no interior do fenômeno o entendimento na verdade não experimenta outra coisa que o fenômeno mesmo, e isso quer dizer que o entendimento, figura da consciência que Hegel atribui não só aos cientistas mas também a filosofia da representação moderna, só faz a experiência de si mesmo. Por trás das coisas de que falamos e sobre as quais pensamos “nada há para ver; a não ser que nós entremos lá dentro – tanto para ver como para que haja algo ali atrás que possa ser visto.”[14]
Sendo assim, a filosofia deveria sempre se posicionar como uma crítica imanente de si mesma e de qualquer outra produção de saber, principalmente em relação a uma certa ingenuidade da ciência em acreditar que a representação do mundo, por meio de testes e números, é seu fundamento. Que fique claro, isso não significa adotar uma postura anticientificista, mas simplesmente saber apontar criticamente as ilusões que estruturam e cristalizam os discursos, sejam eles quais forem.
Adorno oferece a seguinte interpretação da posição filosófica hegeliana diante da ciência:
“Aquilo que aparece como uma verdade irredutível [para a ciência] é já produto de um processo preliminar, algo de secundário e derivado. Não é uma das menores tarefas da consciência filosófica devolver fluidez àquilo que a ciência congelou, por meio de uma reflexão desta sobre si mesma, fazendo-a retornar àquilo do que ela se afastou. A própria objetividade da ciência é meramente subjetiva: a objeção de Hegel ao trabalho irrefletido do entendimento é tão racional como a correção que ele dele faz.”[15]
A filosofia não outorga a si mesma uma autoridade maior para entender a natureza[16], mas é ela quem produz o pensamento e a reflexão necessários para que essa compreensão não se sedimente através de um entendimento desprovido de crítica em relação aos seus resultados e modos de representação da realidade. A filosofia não é melhor que as outras ciências, no máximo ela é dialeticamente consciente das contradições que permeiam todo processo de saber e, com isso, se torna apta a questioná-los lá onde acreditam estar solidamente seguros de si. Châtelet, ao comentar o pensamento hegeliano face à natureza, nos oferece uma boa definição do que seria a tarefa filosófica diante das ciências: “não se trata de edificar a natureza, mas de construir seu conceito, ou seja, aquilo graças a que sua realidade passa a ser pensável; não de prolongar a física, mas de compreendê-la e permitir-lhe melhor compreender-se.”[17]
Como muitas vezes a postura especulativa de Hegel é confundida com uma postura subjetivista ou até mesmo metafísica, seria o caso de lembrarmos da dialética presente em todo seu sistema, e a compreensão de verdade (das Wahre) que dela decorre. Para Hegel a verdade é movimento e não um lugar ao qual se chega; mais que isso ainda, a verdade é um automovimento motivado tanto pelo objeto referente ao juízo quanto pela síntese realizada pelo pensamento. O sujeito, enquanto pensa, não deve se contentar com a mera adequação de seus juízos aos objetos, porque o juízo não é uma simples atividade subjetiva, e a verdade não é uma simples qualidade do juízo. Ao contrário, a verdade sempre impõe algo que não se deixa reduzir ao sujeito. Novamente é Adorno quem diz:
“A insuficiência de todas as determinações particulares isoladas é sempre ao mesmo tempo também a insuficiência da realidade particular, que é compreendida por meio daquelas determinações particulares. Mesmo se o sistema [de Hegel] no final acaba por equiparar razão e realidade, sujeito e objeto, a dialética, por força do confronto de cada realidade com seu próprio conceito, com sua própria racionalidade, volta sua agudeza polêmica contra a irracionalidade da mera existência, contra o estado natural perene.” [18]
Em outras palavras, com Hegel há sempre motivos para se desconfiar daquilo que é pura e simplesmente enquanto algo imediatamente dado. E a verdade, por sua vez, não pode ser expressa enquanto um princípio, mas sim como a totalidade dinâmica de todas as proposições que se engendram umas às outras por meio de relações contraditórias (Ciência da Lógica). Só faz sentido falar em termos de verdade, se essa verdade atravessou um movimento que encara suas próprias contradições e se depura à medida em que se nega, até que alcance o conceito de si mesma (Fenomenologia do Espírito).
Além disso, a filosofia de Hegel parte da totalidade social no qual todos indivíduos sempre-já estão socialmente e historicamente pré-formados e, por outro lado, tem absoluta consciência de que nada se realiza socialmente que não seja por meio desses indivíduos. Para Hegel categorias como sujeito e objeto, particular e universal ou indivíduo e sociedade não estão nunca cristalizadas enquanto oposições simples, e todo o processo que as engendra precisa ser encarado como as diferenciações que cada um dos pólos inflige no outro bem como em si mesmo. Pensemos no conceito de infinito: o movimento de autodiferenciação que revela que a maior oposição não é aquela entre duas posições antagônicas, mas a força negativa que cada coisa tem em si de produzir sua própria diferença. Através do conceito de infinito se desfaz a ilusão da oposição e passa-se para a verdade da interdependência e da autodiferenciação. A dialética, portanto, não se furta de enfrentar a realidade incontornável do objeto, “ela produz literalmente o contrário, o confronto permanente do objeto com seu próprio conceito”[19]. Ela não é um ponto de vista universal que enquadra a realidade em seu esquema, mas sim um “esforço imperturbável para conjugar a consciência crítica que a razão tem de si mesma com a experiência crítica dos objetos.”[20] É Lebrun quem nos lembra como
“é impossível julgar uma asserção de Hegel como se estivesse referida em um código cujo objetivo seria desvelar ou representar a verdade-da-coisa; estamos aqui em presença de uma linguagem que, por si mesma e por seu funcionamento, torna a pôr em questão a concepção tradicional e difusa daquilo que é a informação filosófica. Dizer que se trata da própria natureza do discurso é dizer, antes de tudo, que agora a informação trazida até nós não deve mais ser considerada descritiva de estado-de-coisas ou de conteúdos dados. Com Hegel, a filosofia deixa de visar a uma ‘verdade-de-juízo…”[21]
Assim, por mais que a filosofia hegeliana, ao desdobrar a filosofia kantiana, restabelece o papel do sujeito e da mediação como categorias fundamentais para se compreender a realidade, não tem como reduzi-la a uma filosofia da subjetividade, uma filosofia que tece seus enunciados a partir da pessoa empírica em sua particularidade psicológica, e Adorno compreendeu isso muito bem ao dizer que
“a pretensão de verdade de um pensamento não é a cópia adequada daquele que pensa, nem uma mísera repetição daquilo ele é, independentemente disso. Pelo contrário, essa pretensão se prova naquilo que excede o acanhamento da simples existência e ali onde o indivíduo aliena a si mesmo de modo a atingir finalmente sua meta. (…) Se há verdadeiramente necessidade, na filosofia, do sujeito pensante; e sem aquele elemento, que hoje é manuseado sob o signo mercadológico do existencial, é impossível atingir a objetividade da coisa mesma, então o sujeito não se legitima ali onde ele se mostra, mas lá onde, graças à disciplina que lhe é imposta pela coisa, ele destrói sua autoposição e se extingue na coisa. Essa é a trajetória de Hegel, que nenhum outro seguiu.”[22]
É assim, portanto, que Hegel realiza a reconciliação entre o sujeito e o objeto uma vez cindidos pelas dicotomias da representação, ou seja, não é adequando a coisa ao seu pensamento, nem simplesmente abrindo mão de pensá-la para trazer a tona uma verdade que é anterior ao próprio pensamento, mas destruindo sua autoposição e se extinguindo na coisa ao mudar o modo como se relaciona com a própria realidade. Aqui se faz notar o real significado do conceito de experiência em Hegel: a experiência da realidade, efetivamente, não acontece de outra forma que não seja dialética; e seu ponto de vista é o esforço constante pela totalidade. Não é por acaso que o conceito de experiência em Hegel, tal como vemos na Fenomenologia, não se reduz às relações empíricas da consciência, ele também abarca, sobretudo, a experiência do espírito, isto é, da totalidade da vida social (filosófica, religiosa, artística, etc). A experiência que a consciência faz sobre si mesma não pode abranger nela, segundo seu conceito, nada menos que o (…) reino total da verdade do espírito.”[23] Desse modo, penso que essa passagem da Enciclopédia sintetiza muito bem do que se trata: “a natureza é o que é posto pelo espírito, e o espírito mesmo é o que faz da natureza sua pressuposição.”[24] Isto é, cada momento histórico da totalidade social configura uma nova “natureza”, e consequentemente uma outra realidade, na medida em que alcança um novo conceito, e o espírito, por sua vez, se realiza através desse conceito.
Todas as tentativas de descrição, figuração e representação da realidade tem seus limites nos axiomas que lhes dão sentido. As ciências por si mesmas, na medida em que se mantém fundamentadas pela representação, são ainda um conhecimento limitado pela ausência de um saber efetivo real, histórico, dialético, totalizado. A ciência postula um saber no real que exclui uma parte da verdade, posto ser unilateral na medida em que negligencia o sujeito: embora o fazer científico tenha sua origem no sujeito e só seja possível através dele, isso é recalcado em seus postulados. As ciências, desse modo, não podem deduzir seus conceitos de forma intrínseca às contradições dos próprios conceitos, não ultrapassando, assim, os limites da representação. No que compete a filosofia, por seu turno, concluo com esses dois trechos da Introdução da Enciclopédia das Ciências Filosóficas:
é importante que a filosofia esteja bem consciente de que seu conteúdo não é outro que o conteúdo originariamente produzido – e produzindo-se – no âmbito do espírito vivo, e constituído em mundo, mundo exterior e interior da consciência; e entenda que o conteúdo da filosofia é a efetividade. Chamamos experiência a consciência mais próxima desse conteúdo. Uma consideração sensata do mundo já distingue o que, no vasto reino do ser-aí exterior e interior, é só fenômeno, é transitório e insignificante – e o que em si verdadeiramente merece o nome de efetividade (o que é racional é efetivo e o que é efetivo é racional). ECF §6
a filosofia se mostra como círculo que retorna sobre si, que não tem começo – no sentido das outras ciências -, de modo que o começo é só uma relação para com o sujeito, enquanto esse quer decidir-se a filosofar, mas não para com a ciência enquanto tal. Ou, o que é o mesmo, o conceito da ciência e por isso o primeiro conceito – e, por ser o primeiro, contém a separação [a saber], que o pensar é o objeto para um sujeito filosofante (de certo modo exterior) – [esse conceito] deve ser apreendido pela própria ciência. É mesmo esse seu único fim, agir e meta: alcançar o conceito de seu conceito, e assim a seu retorno [sobre si] e à sua satisfação. ECF §17
Notas
[1] Há uma identificação em Hegel entre cientificidade, sistematicidade e verdade.
[2] Enciclopédia das Ciências Filosóficas §9, p. 49.
[3] Hegel pretende tornar a filosofia uma ciência, como pretendia Fichte, uma ciência dos princípios.
[4] M. J. C. FERREIRA, “Notas”. In: G. W. F. HEGEL, Prefácios, p. 75.
[5] “Quando enfim o rigor do conceito tiver penetrado no âmago da coisa, então tal conhecimento e apreciação terão o lugar que lhes corresponde. A verdadeira figura, em que a verdade existe, só pode ser o sistema científico [wissenschaftliche System]. Colaborar para que a filosofia se aproxime da forma de ciência [daß die Philosophie der Form der Wissenschaft näherkomme] – da meta em que deixe de chamar-se amor ao saber para ser saber efetivo – é isto o que me proponho. Reside na natureza do saber a necessidade interior de que seja ciência [Wissenschaft sei]. […] É o tempo da elevação da filosofia à condição de ciência [{Ist die Zeit von} die Erhebung der Philosophie zur Wissenschaft].”
[6] “Não somente deve a filosofia ficar em concordância com a experiência da natureza, mas o surgir e a formação da ciência filosófica têm a física empírica como pressuposto e condição” E.C.F. § 246
[7] “O ponto de vista essencial é que se trata sobretudo de um novo conceito de tratamento científico. A filosofia, ao dever ser ciência [Die Philosophie, indem sie Wissenschaft sein soll], não pode, para este efeito, como eu recordei noutro lugar* [Fenomenologia do Espírito, Prefácio à 1ª edição.], pedir emprestado o seu método a uma ciência subordinada [untergeordneten Wissenschaft], como é a matemática, como tão pouco se dar por satisfeita com asseverações categóricas da intuição interior [innerer Anschauung], nem se servir de um arguente raciocínio [Räsonnements] fundado na reflexão exterior.” Prefácio CL.
[8] Justamente o que Hegel realiza com sua Ciência da Lógica.
[9] Lebrun, A paciência do conceito, p. 16
[10] Ver, por exemplo, o adendo ao §246 da ‘Filosofia da Natureza’.
[11] Hegel, Enciclopédia das Ciências Filosóficas, p. 52 -3.
[12] Losurdo, Hegel e a liberdade dos modernos, p. 67 e 68
[13] Siep, Hegel’s Phenomenology of Spirit, p. 81
[14] Fenomenologia do Espírito, p. 130.
[15] Adorno, Três estudos sobre Hegel, p. 157
[16] “Sobre a relação da filosofia [Philosophie] com o empírico falou-se na introdução geral. Não somente deve a filosofia ficar em concordância com a experiência da natureza, mas o surgir e a formação da ciência filosófica [philosophischen Wissenschaft] têm a física empírica como pressuposto e condição. Mas uma coisa é a marcha do surgir e as pré-elaborações de uma ciência, outra é a própria ciência em questão; nesta não podem mais figurar como fundamento, pois fundamento aqui deve ser muito mais a necessidade do conceito. (Já foi lembrado que não só se deve apresentar o objeto segundo sua determinação de conceito no encaminhamento filosófico, mas também a aparência empírica correspondente a essa determinação deve ser tornada notória e pela mesma se deve mostrar que ela de fato corresponde à sobredita [determinação de conceito]).41. A filosofia tem de partir do conceito; e mesmo que ela estabeleça pouco deve-se ficar contente com isto. É uma aberração da filosofia da natureza se ela pretende enfrentar todos os fenômenos; tal atitude só acontece nas ciências finitas, onde tudo se pretende reconduzir aos pensamentos gerais [às hipóteses]. O empírico é aqui apenas a verificação [credibilidade] da hipótese; portanto tudo precisa ser esclarecido. Mas o que é conhecido por meio do conceito é por si claro e estabelecido; a filosofia não precisa ter nenhuma inquietação mesmo a pretexto de que ainda não estejam esclarecidos todos os fenômenos. Assim lancei aqui apenas estes começos da consideração racional na conceituação das leis da natureza matematicamente mecânicas, como deste livre reino das medidas. Homens do ramo não refletem sobre isto. Mas virá o tempo em que se sentirá falta desta ciência segundo o conceito racional.” ECF §270
[17] Châtelet, Hegel, p. 103
[18] Adorno, Três estudos sobre Hegel, p. 162
[19] Idem, p. 80
[20] Adorno, Três estudos sobre Hegel, p. 81.
[21] Lebrun, A paciência do conceito, p. 16.
[22] Adorno, Três estudos sobre Hegel, p.129 e 130.
[23] Fenomenologia do Espírito, p. 79.
[24] Enciclopédia das Ciências Filosóficas, p. 369.