Por Juan Pablo Orellana, encaminhado pelo autor ao LavraPalavra, traduzido por Daniel Fabre
Parece-nos apropriado aqui, começar recordando esse grito corajoso de Robespierre na Convenção do 9 de Termidor: “A República está perdida, porque triunfam os bandidos!”
O colocamos no centro de nossa reflexão porque de alguma maneira, nosso jovem século está marcado pela vitória indiscutível do capital-liberalismo e sua forma política que é a democracia parlamentar.
Tomemos o liberalismo em sua concepção primitiva, tal como nos sugere Alain Badiou: “isto significa fundamentalmente que a propriedade privada é a chave da organização social, ao custo de enormes desigualdades” Este triunfo se converteu em duas coisas que nos parecem pertinentes destacar; por um lado, a queda ou desaparição do bloco contra-hegemônico ao capitalismo, o que permite levar até últimas consequências a ideia de Herbert Marcuse a respeito da sociedade atual como uma sociedade sem oposição e; por outro, a chantagem liberal a que a esquerda se vê submetida constantemente. Isso sem dúvidas, é um lugar comum para o liberalismo já que está permanentemente assinalado que qualquer tentativa de mudar as condições sociais impostas, levaria a marca inapagável do Terror e do totalitarismo. É dizer, não bastou ao capitalismo acabar com seu antagonista, era necessário apagar também suas possibilidades de existência: são os chamados desesperados do famoso #Chilezuela.
Este último recurso, a apelação ao Gulag ou ao holocausto, hoje em dia com mais leviandade, ao já mencionado Chilezuelanismo, é o traçado fronteiriço do campo do possível em política. Quem sequer ouse transpassar esse limite imposto, estaria jogando em um campo eticamente perigoso que pavimenta o caminho dos totalitarismos.
Saint-Just perguntava em 1793, sob a revolução ameaçada: “Que querem os que não querem nem a virtude nem o terror? Eles querem a corrupção”. E aí está nu o problema democrático contemporâneo: essa espécie de vínculo irredutível entre capital, digo, sua aparição concreta e o liberalismo, com sua forma política predileta, a democracia parlamentar.
Ante esta miserável prostração do espírito, que nos obriga a aceitar como fatos naturais a corrupção e o marco estabelecido, vamos antepor o gesto leninista que nos sugere o mesmo Alain Badiou (e ainda que soe esquizofrênico para alguns, resultado do que vínhamos assinalando), devemos valorizá-lo mais que nunca, hoje que caminhamos para nos constituir em oposição.
Este gesto consiste em revitalizar uma ideia geral, que entre suas principais características nos permita: “manter a hipótese histórica de um mundo livre da lei do lucro e do interesse privado”. E reforçar a ideia que nada nos obriga a manter as coisas como estão. É refrescar a hipótese comunista.
Por isso, “é preciso acabar com o terrorismo linguístico que nos entrega aos inimigos.” Devemos poder dizer novamente e sem nos sentirmos culpados de antemão, (esse é o convite de Badiou pelo menos), “povo”, “classe trabalhadora”, “fim da propriedade privada”, “luta de classes”, etc., e no que nos achamos equivocados, retificá-los, mas a partir de nossa experiência e perspectiva.
A conduta e atitude da classe política, que se sente muito segura de seu status e altura moral, que se dá gostos luxuosos e jantares rimbombantes com os mesmos empresários que os financiam, que é capaz de enfrentar e questionar axiologicamente a sociedade apesar do evidente rechaço que mostra o conjunto para com ela, que carrega uma tese nas costas e ainda que não se faça explicita, se deixa ver nestes detalhes que acabamos de mencionar, isso é o que podemos explicitar tal como o fez Badiou e que compartilhamos integralmente: “é uma maneira de dizer que a esquerda já não assusta ninguém: “Vivam os ricos, e ao inferno com os pobres”.
O convite então é a não considerar as coisas como assentadas, é dizer que temos algo para dizer e que em definitivo, todos os caminhos não conduzem a Roma, porque alguns nos mantiveram extraviados por bastante tempo e devemos voltar a nos constituir em negatividade desta história.